Este governo de maioria absoluta tem brindado os portugueses, desde a sua constituição, com casos e casinhos de várias espécies, sem que nenhum deles enobreça a política. Pelo contrário. Todos os casos a que temos vindo a assistir, neste mais de um ano de governo do PS, impávidos e serenos com a conivência de alguns, têm sido altamente lesivos para a credibilidade da política, mas sobretudo para cada um de nós.

As mais recentes audiências parlamentares sobre a TAP revelam uma enorme promiscuidade na relação do Governo com as empresas públicas. Conseguimos perceber que aquilo que deveria ser não é. Esta situação não é nova, infelizmente, é de facto comum aos sucessivos governos. No entanto, pela permanência mais longa nos governos por parte do Partido Socialista, este modus operandi está a ficar de forma indelével associado ao PS.

E isso é necessariamente um problema para o país, que somos todos nós, na medida em que este modelo de gestão, distribuir entre amigos e boys partidários os cargos, as assessorias, as avenças, os ajustes diretos, tem feito escola por esse país fora. E se, mesmo na TAP, que supostamente é uma empresa muito bem escrutinada, conseguem fazer mais ou menos aquilo que querem, como será pelas restantes empresas públicas, como será pelas autarquias, freguesias e toda a administração pública?

Poderá estar neste momento a dizer que, se fossem “os outros”, fariam o mesmo, mas a questão não é quem faz mais ou menos mediante as suas possibilidades. A questão é porque o fazem e a forma como isso prejudica a credibilidade da política, as decisões políticas com consequências diretas nos cidadãos. Nós.

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Li, há dias, que, segundo António Costa, Hugo Mendes era “inepto para qualquer função executiva,” mas “preparado ideologicamente”. Aqui está o mais grave problema da política e do nosso país. O mais grave problema do nosso país está na cada vez maior desqualificação e mediocridade do pessoal político nos partidos. São estes ineptos que nos governam, porque o que interessa é a preparação ideológica, que começa nas jotas e em algumas universidades, em detrimento da competência, da experiência profissional e da capacidade de pensar autonomamente.

Estes boys, focados nos seus intentos, como dizia Luís Sepúlveda, mais preocupados “com as suas próprias carreiras e interesses do que com as necessidades do país e das pessoas que representam”, afastam todos aqueles que estariam na política com sentido de Estado, com vontade de servir, com capacidade e competência para fazer política. Como esses se afastam, ficam os politiqueiros. É cada vez mais assim.

Os partidos, nas suas bases, têm formas caciqueiras de funcionar e isso reflete-se no recrutamento dos seus quadros, que amanhã serão deputados, governantes, assessores, membros de gabinete, etc., sem que na realidade tenham tido, antes de ocuparem esses cargos, uma verdadeira carreira profissional, estudos coincidentes com as competências requeridas nos cargos que ocupam, experiência suficiente da realidade da vida normal de um cidadão normal com a mesma idade mas que nunca abanou bandeiras nas campanhas eleitorais aos 16 anos. Esses são aqueles que amanhã nos governam e também por isso é sempre uma questão de tempo para virem ao de cima todas as incapacidades e incompetências. São ineptos com uma ótima preparação ideológica. Mas isso, como assistimos nos últimos 40 anos, não chega!

Quantos não são os políticos atuais que vêm das ‘jotas’, nunca enviaram um currículo para trabalhar porque o partido fez-lhes o favor de ir sempre arranjando uma avença aqui ou um cargo acolá, vivem das redes sociais e de alguns amigos jornalistas que lhes dão tempo de antena?

Seria interessante perceber que vida teriam muitos dos atuais políticos profissionais sem a almofada partidária. Muitos deles mostram em poucos meses que nem sequer competência têm para gerir a própria casa.

Seria interessante uma investigação jornalística para perceber o que fizeram na vida muitos dos atuais governantes, tais como António Costa, Pedro Nuno Santos, João Galamba, Fernando Medina, para além daquilo que é público, a carreira política?

Será que alguém acredita que, como dizia José Saramago, os políticos que “têm o estranho hábito de viver numa bolha, ignorando a realidade do país e as necessidades da população.”, adquiriram, nesse contexto, competência para tomar decisões políticas congruentes?

É na realidade por essa razão que Fernando Medina anuncia com pompa e circunstância um apoio de 30€ por mês. Sabemos nós, que estamos fora da bolha, que esse valor é insuficiente. Mas será que o Ministro Fernando Medina tem essa noção? Obviamente, não. Nunca teve de trabalhar fora da bolha, pelo que nunca experimentou essa realidade. Se alguma vez na vida muitos dos nossos governantes tivessem estado fora da bolha, onde entraram ainda novos através das “jotas”, teriam outra noção da realidade e consequentemente um know how diferente para decidir politicamente. E assim chegámos aqui, de onde é cada vez mais difícil sair. Convinha refletir até numa nova forma de eleger os nossos representantes… mas isso não interessa nada aos partidos e aos seus caciques.