A inteligência artificial já não é tema de futuro, faz parte do nosso presente. O seu impacto é sentido a vários níveis e até no setor da Literatura. São muitas as mais-valias da tecnologia, mas tudo começa por uma boa história.

A tecnologia tem evoluído muito nos últimos anos e em particular a inteligência artificial tem apresentado uma progressão assinalável. Atualmente é um tema recorrente e o seu potencial expande-se a vários níveis, em muitos setores. Também na Literatura já se sentem os efeitos destas novidades e é possível que não demore muito tempo, entre 5 a 10 anos, para que a inteligência artificial esteja verdadeiramente implementada, com a possibilidade de executar vários serviços editoriais, como o design da capa, a revisão do texto, a paginação, tradução e até narração para audiolivro. É um mundo de possibilidades que só agora começa a ser descortinado.

A maior parte deste trabalho é feito, atualmente, pelas editoras tradicionais. Com este advento tecnológico, restará algo que a inteligência artificial não consegue tratar: a curadoria dos títulos a serem publicados e a aposta, ou seja, o investimento em títulos e o posterior retorno de acordo com o seu respetivo sucesso. É um cenário que pode fazer lembrar a ficção científica, mas tudo aponta para esse caminho. E, se pensarmos bem, muito do que a inteligência artificial consegue fazer hoje também nos parecia ficção científica há uma década.

O mercado editorial tem encontrado, há já alguns anos, formas de se reinventar, fugindo às estruturas mais tradicionais, como é o caso da autopublicação, que permite democratizar o acesso à publicação e à leitura de livros, bem como promover uma maior diversidade literária. Desta forma, juntam-se escritores de diferentes origens e perspetivas, que podem publicar os seus livros gratuitamente, mantendo o controlo do processo, desde a publicação até à sua distribuição. Restará, depois, ao leitor escolher o livro que mais lhe apraz. E, cada vez mais, a escolha é vasta: segundo um estudo da WordsRated, publicado em janeiro, cerca de 300 milhões dos livros que são vendidos anualmente resultam de autopublicação. O mesmo estudo aponta para que este mercado cresça, por ano, 17 vezes mais do que o de livros tradicionais.

Não obstante o avanço tecnológico, é importante sublinhar que de pouco servirá sem o poder de uma boa história. Por mais que a inteligência artificial progrida, precisaremos sempre dos nossos Autores. A inteligência artificial não fazia parte do vocabulário de grandes escritores lusófonos como Fernando Pessoa, Machado de Assis, Agustina Bessa-Luís, José Saramago ou Clarice Lispector, que apenas precisaram do poder da sua escrita para se tornarem eternos.

As histórias serão sempre a base da literatura. Contudo, é inegável que o mundo está a mudar e é essencial que nos adaptemos. Mais do que isso, é importante que tiremos partido das vantagens que a tecnologia pode trazer, para que se construa um mundo de histórias cada vez mais diversificado e vasto.

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