Nesta altura do campeonato, não é admissível um mundo tão injusto e com ameaças de uso de armas nucleares. Ao caldeirão prestes a levantar fervura, adiciona-se o tempero mais decisivo para o futuro da humanidade: a inteligência artificial (IA).
O momento histórico em que o dinheiro, as armas e o poder se interligam de forma desumana é coincidente com a criação de incentivos financeiros descentralizados, os primeiros a não distinguir governantes e governados. É uma pedrada no charco, mas não chega para afastar tanto lodo. Para sair do pântano em que estamos metidos, precisamos do apoio de uma IA isenta, segura e transparente.
Tecnologias cada vez mais poderosas precipitam os acontecimentos e tornam indispensável uma reforma política fundada na transparência e na descentralização. Felizmente, estes princípios estão a ser implantados em redes digitais seguras e cristalinas, graças às Distributed Ledger Technologies (DLT), cuja tecnologia pioneira é a Blockchain.
Tal como é possível confiar no rigor matemático das moedas digitais, ao ponto de se poder distribuir a contabilidade das respectivas transações por milhares de computadores de pessoas desconhecidas, também a informação crítica dos Estados pode ser protegida e validada de forma infalível graças à criptografia.
Por exemplo, num eventual acordo de desarmamento entre superpotências nucleares, a utilização da tecnologia blockchain, envolvendo “oráculos” e contratos inteligentes, permitiria a verificação do respetivo cumprimento sem expor informações sensíveis ou segredos de Estado. A cada ação de desmantelamento de uma ogiva nuclear, seria gerado um código único e imutável para registo na blockchain como prova. Oráculos de hardware, tais como sensores de radiação, ou de “humanware”, tais como inspetores internacionais independentes, poderiam validar ações específicas dos processos de desmantelamento e auxiliar a produção desses códigos. Para confirmar o cumprimento do acordo, bastaria a cada nação apresentar os seus códigos únicos (semelhante a endereços criptográficos de moedas digitais), viabilizando uma fiscalização multipartida sem revelar informações sensíveis sobre ogivas e processos de desmantelamento.
Pode parecer bom demais para ser verdade, mas estas tecnologias de criptografia avançada existem e são cada vez mais robustas. Obviamente, tudo isto requer cooperação e confiança entre os Estados, mas, neste momento crítico para a humanidade, é preciso mais do que ações unilaterais. A NATO e as potências nucleares não-alinhadas podem e devem colaborar em prol de um sistema global de gestão da IA seguro e transparente.
Os fundamentos da matemática são incorruptíveis, pelo que a criptografia serve para estabelecer confiança até entre inimigos. Com uma abordagem ética e esclarecida, a IA e as DLT permitem combater a incerteza e a corrupção, promovendo a paz, a democracia e a justiça. Assim, há que ter a inteligência necessária para arrepiar caminho no século XXI.