Num artigo publicado há uns meses sobre as declarações de Billie Eilish acerca do impacto negativo que a pornografia teve na sua adolescência, afirmei que a jovem estrela não era a primeira nem seria a última figura pública a confessar algo semelhante sobre o tema. Modéstia à parte, assim foi: Jada Smith, conceituada atriz e esposa de Will Smith, declarou recentemente ter sido viciada em pornografia, acrescentando que isso lhe trouxe um “grande vazio”. Mais uma vez, arrisco-me a dizer que não ficarão por aqui os testemunhos de famosos sobre este tópico.

O parágrafo anterior pode levar a crer que os conteúdos pornográficos prejudicam e atacam de forma especial figuras públicas, deixando ileso o comum dos mortais. Infelizmente, não é essa a realidade: a pornografia é um perigo real para miúdos e graúdos, sejam estes mais ou menos famosos.

Durante um episódio do programa Red Table Talk, um chat show protagonizado pela própria Jada, pela filha, Willow Smith, e pela mãe, Adrienne Banfield-Norris, a atriz de 50 anos começou por dizer que houve um tempo em que teve um pequeno vício em pornografia. Porém, rapidamente voltou atrás, dizendo que “pequeno vício” talvez não fosse a designação mais adequada, já que assistia a vídeos pornográficos cerca de cinco vezes por dia. Ainda nesse episódio, também a jovem Willow Smith desenvolveu que começou a assistir a conteúdos pornográficos agressivos na rede social Tumblr aos 11 anos e que os amigos a pressionavam para consumir pornografia.

Há um aspecto interessante a sublinhar no exemplo de Jada: a pornografia surgiu na vida da atriz numa fase em que decidiu parar de consumir drogas e ter relações sexuais compulsivas. O uso destes conteúdos servia para tentar substituir o sexo e as drogas, criando, aparentemente, um refúgio. A verdade é que só proporcionou mais tristeza e vazio. Se neste caso a emenda foi pior que o soneto, será que a pornografia pode ser solução para o que quer que seja?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sobre o depoimento de Willow, é possível inferir semelhanças com o de Billie Eilish, quando ambas afirmam que se sentiram pressionadas pelos respectivos amigos para assistir a vídeos pornográficos. Existe, assim, um padrão em diversos grupos de adolescentes (e não só nos de estrelas como Willow e Billie), que consiste no consumo de pornografia como requisito para pertencer ao grupo, para ser cool.

Posto isto, como se pode em particular apoiar e alertar os mais novos? A própria Willow Smith dá a resposta através da sua experiência pessoal, quando confessa que a pressão de grupo não a afetava tanto por ter conversas construtivas e transparentes sobre o tema com os seus pais. Não há, por isso, dúvida que é no lar que se começa e desenvolve um processo de instrução e prevenção de um risco que pode deixar estragos indeléveis.

A pornografia é altamente perigosa, podendo gerar danos psicológicos profundos nas pessoas que a consomem. A maior parte dos jovens tem o primeiro contacto com conteúdos pornográficos entre os 11 e os 13 anos, cerca de 88% dos vídeos pornográficos contêm atos de agressão física ou verbal e as probabilidades de uma relação terminar aumentam consideravelmente quando uma das partes é adicta à pornografia. Sobre este último ponto, é a própria Jada Smith que diz: “felizmente, não estava numa relação quando tive esse vício”.

A pouco e pouco, estes conteúdos corrompem qualquer um, enfraquecendo-o psicologicamente, isolando-o do mundo e tornando-o dependente de um conceito de sexualidade maquinal e deturpado, em que o próximo se torna numa fonte de prazer. Em tom jocoso, é caso para dizer que quem merecia uma bofetada de Will Smith não era Chris Rock, mas sim a pornografia.