Morreu hoje Joana Marques Vidal, mas o seu nome ficará para sempre ligado à história do Ministério Público. Desde logo porque foi a primeira mulher a ocupar o cargo de procuradora-geral da República. Mas também porque, após longa carreira nessa magistratura, desempenhou o cargo cimeiro com uma energia e uma inspiração dificilmente igualáveis.

Intuitiva e dinâmica, a todos galvanizou para o alcance de objetivos que soube traçar e prosseguir, não se isolando. Saía do gabinete e ia ao encontro da sua equipa, que eram todos os magistrados e funcionários do Ministério Público. Não houve recanto do país judiciário que não percorresse, Procuradores com quem não falasse, assunto que não analisasse e discutisse com afã, comunicando com inteligência e empatia e elevando assim o prestígio do Ministério Público e da Justiça em geral a níveis incomuns. E sempre de modo afável e simples, sem poses majestáticas, porque a sua grandeza era toda interior.

Liderou uma equipa dirigente, a que tive a honra de pertencer, onde o diálogo era aceso e do confronto de ideias chispavam soluções, por vezes plasmadas em Diretivas, que marcaram de forma indelével a história judiciária do País na década passada.

Não vou agora dizer que foi perfeita. Ninguém é perfeito e muito menos nesta ingrata arte em que a matéria é de tal modo volátil que não raro se confunde o objeto com a própria sombra. Mas nunca, numa história de séculos, estivemos tão perto de realizar a quimera da igualdade dos cidadãos perante a Lei.

O brilho dos seus olhos, pura manifestação do entusiasmo que foi apanágio de toda uma geração marcada pela utopia que emergiu logo depois de Abril, vai fazer-nos falta!

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