O mote deste texto é também um dos principais motes da Iniciativa Liberal. Um mote no qual me revejo inteiramente, mas que tem sido propício a interpretações erróneas.

Um Liberal acredita na Liberdade individual. Na Liberdade como “estado no qual um homem não está sujeito a coerção pela vontade arbitrária de outro ou de outros”, como definida por Hayek.

A ausência de coerção é o fator essencial para a Liberdade.

Ora, o mote “Liberais em toda a linha” tem servido para justificar um posicionamento que vai bem para além da ausência de coerção. Um posicionamento que defende os direitos positivos, que defende um Estado que eduque as pessoas para uma suposta visão de progresso.

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Esse papel do Estado-educador, que procura fazer dos cidadãos pessoas melhores é, na verdade, um fator de coerção e, como tal, iliberal.

Um Liberal em toda a linha defende a Liberdade de cada um fazer o que bem entender, na esfera da sua liberdade individual. E a Liberdade de cada qual ter as opiniões que entender sobre as ações dos outros.

Todos devemos ser livres de fazer o que quisermos com as nossas vidas. Mas não seremos isentos do julgamento social, proveniente de normas sociais assentes na tradição e na evolução da sociedade ao longo de séculos.

Este é um outro ponto importante para um Liberal clássico: a tradição. A tradição, o corpo de normas sociais existente na sociedade, emerge da experimentação de séculos, por milhões de pessoas por todo o mundo. Emerge espontaneamente, sem intervenção do Estado ou sem qualquer tipo de coação.

Este corpo de normas sociais não deve limitar a Liberdade individual de cada um. Mas cada uma saberá qual o quadro social em que se enquadra e no qual toma as suas decisões.

Nestas premissas assenta parte do pensamento liberal clássico. Um pensamento Liberal em toda a linha.

Este mote cruza com um dos outros slogans da Iniciativa Liberal “Mais Liberdade: Política, Económica e Social”.

A Liberdade Política excede a definição de Liberdade individual apontada por Hayek. Se para a Liberdade política são importantes liberdades negativas (a ausência de coerção), como a Liberdade de pensamento ou de expressão, são também essenciais liberdades positivas, como o direito de voto e a participar no sistema democrático.

A Liberdade Económica, uma das componentes da “liberdade de ação” também advogada por Hayek, assume sobretudo um caráter de liberdade negativa. Seremos mais livres quanto menor a ação do Estado sobre as nossas escolhas pessoais.

Taxações elevadas, regulações abusivas, burocracia desnecessária, entre outros, são entraves à Liberdade económica, são entraves a que cada um possa decidir o que fazer com a sua vida e com a sua propriedade.

A Liberdade Social será, porventura, a componente mais propícia a interpretações erróneas, que tentam diferenciar liberais clássicos de “liberais em toda a linha”.

O problema começa, desde logo, com a confusão entre Liberdade Social e Liberalismo Social. Tendo pontos em comum, não são uma e a mesma coisa. Um Liberal Social terá uma visão sobre a Liberdade Social, mas também sobre as outras componentes da Liberdade. Visão essa que requer, frequentemente, uma maior intervenção do Estado (uma maior coerção) e, como tal, um menor grau de Liberdade.

Além disso, fruto dos tempos que vivemos, o conceito de Liberdade Social é frequentemente restringido à Liberdade nos costumes. Acredito que essa não é a única (provavelmente, nem a principal) componente da Liberdade Social.

A Liberdade Social é, sobretudo, a Liberdade da sociedade para se organizar espontaneamente para responder aos seus próprios problemas. Parte da convicção de que a sociedade (e as comunidades, sobretudo) serão capazes de encontrar soluções melhores (e menos coercivas) para os seus problemas, do que aquelas que podem ser “oferecidas” pelo Estado.

Mas a Liberdade de costumes não deixa de ser importante. E  enquadra-se na perfeição na definição de Liberdade individual oferecida por Hayek.

Um Liberal clássico não pode deixar de defender a Liberdade individual. Não ignora também é a importância da tradição e a certeza de que uma atitude progressista por parte do Estado leva, inevitavelmente, a uma maior coerção e, com grande grau de probabilidade, à destruição do corpo de normas sociais essenciais ao progresso.

Um Liberal Clássico não pode, por isso, deixar de ser, um “Liberal em toda  a Linha”.

“O que interessa agora é o caminho, não o absoluto ponto de chegada final.”, lê-se na Moção de Estratégia Global aprovada em dezembro na convenção da Iniciativa Liberal. Num país altamente estatizado como é Portugal, com uma cultura de intervencionismo e, muitas vezes, de subserviência em relação ao Estado, muito mais será o que une os Liberais, do que aquilo que os separa.

É legítimo, e saudável, que num partido exista discussão ideológica. Que as diversas correntes tentem ganhar influência e ter uma voz mais ativa na definição do rumo do partido e do país.

É nesta diversidade que a Iniciativa Liberal crescerá.

Será esse o contributo dos Liberais Clássicos. Um contributo para um Portugal Mais Liberal, começando, desde logo, por uma IL Mais Liberal.