Após a adesão do terceiro governo da AD à recomendação da Comissão Técnica Independente de localizarmos nos 7,5 mil hectares que o Estado possui no Campo de Tiro de Alcochete (CTA) o aeroporto que substituirá o que está instalado em 600 hectares da Portela de Sacavém desde 1942, é cada vez mais evidente que deveria ser alterado em conformidade o traçado original da Linha de Alta Velocidade (LAV) que ligará o Porto a Lisboa, concebido quando ainda se julgava suficiente usar a pista instalada nos mil hectares da Base Aérea do Montijo.
Isto é, que a LAV deveria poder inflectir para Santarém depois de passar por Leiria, a fim de atravessar o Tejo e passar pelo CTA antes de entrar em Lisboa, pela ponte ferroviária que a respetiva concessionária LUSOPONTE deverá construir, sem custos diretos para o contribuinte, em concomitância com a construção pela ANA da primeira pista do novo aeroporto – numa operação coordenada que não deveria ser difícil uma vez que a mesma empresa é accionista de ambas as concessionárias, de metade da primeira e da totalidade da segunda.
A alteração em apreço do traçado obedece a uma lógica imbatível: coincide parcialmente com o eixo longitudinal entre Mira e Odemira, embaratece a construção do último troço, posto que dispensa a construção de extensos túneis para trespassar as serras que circundam a capital, reduz o respetivo tempo de execução e, em complemento da A13, aproxima a malha urbana da Beira Baixa, do Ribatejo e do Alto Alentejo do novo entreposto aéreo nacional, sem por isso aumentar significativamente o tempo da viagem.
A redução do tempo de execução do último troço da LAV que ligará o Porto a Lisboa faria convergir o seu calendário com o da construção da primeira pista do novo aeroporto e com o da construção duma travessia ferroviária dedicada entre as margens norte e sul da Área Metropolitana de Lisboa (AML) – e no futuro entre as duas metades da desejável LAV entre Porto e Faro.
E o eventual aumento do tempo da deslocação por LAV entre o Porto e Lisboa, de mais dez ou, no máximo quinze minutos, seria um preço pequeno a pagar pela grande comodidade de assim se dispensar a travessia da AML aos portugueses que se queiram deslocar de uma ponta a outra do país através da via férrea, incluindo os que queiram servir-se do novo aeroporto venham de onde vierem, liberdade que lhes devia assistir sem quaisquer reservas.
A peça que falta é realmente o lançamento logo que possível do concurso internacional para a construção da LAV que ligará a capital de Portugal às capitais dos outros EM da UE, isto é, a LAV entre Lisboa e Madrid, pela qual aliás se devia bem entendido ter começado, a fim de que os milhões de turistas europeus que preferem o comboio de alta velocidade para as viagens de férias não terem que, ao chegar a Madrid, apanhar o avião para Lisboa.
Para já não falar, claro está, da prioridade que também deverá ter a reabilitação fiel dos mil quilómetros de linhas ferroviárias no interior de Portugal e das respetivas obras de arte, estações, locomotivas e carruagens de época, sobretudo ao longo da raia entre Trás-os-Montes e o Algarve, que foram imperdoavelmente desativadas no final do século passado.
Mas que atualmente, tal como as congéneres dos outros EM da UE, seriam uma atração irresistível para os turistas independentes do mundo desenvolvido que procuram linhas ferroviárias históricas, património medieval intacto e, sobretudo, património natural bem protegido, como aquele que ainda temos o privilégio de ter graças à Reserva Agrícola Nacional e à Reserva Ecológica Nacional criadas pelo segundo governo da AD, 1981-83, por iniciativa do saudoso ministro de Estado e da Qualidade de Vida, Gonçalo Ribeiro Teles.