Portugal ocupa o último lugar do ranking de literacia financeira da Zona Euro, de acordo com os últimos dados de 2020. É a melhor introdução para toda uma discussão que mais tarde ou mais cedo a realidade virá a impor.
Ocupar este lugar é como estar como piloto de um barco sem saber navegar e devia chocar qualquer um que reconheça que, num mundo cada vez mais globalizado e mais competitivo, as consequências da iliteracia financeira são cada vez mais gravosas.
A literacia financeira é um dos fatores mais relevantes para o desenvolvimento de uma sociedade. É a boa gestão dos recursos financeiros que permite satisfazer melhor e mais facilmente as necessidades individuais e coletivas. E a crescente satisfação dessas necessidades só se torna possível se as oportunidades que surgem forem agarradas. Para isso é preciso criar condições para que empresas e famílias gerem poupanças e capital financeiro disponível para ser investido.
Um tema determinante como este deveria merecer uma reflexão: o sistema educativo português tem falhado na passagem de conteúdos financeiros. Uma disciplina exclusiva dos temas de educação financeira, como existe noutros países, ajudaria. O atual cenário, em que se engloba a educação financeira numa mixórdia com as demais temáticas da disciplina de cidadania, terá sempre maus resultados.
Mesmo sem o dizer, o governo português tem, no curto prazo, interesse na manutenção da situação: ajuda a ganhar votos ter um país que, na sua larga maioria, não compreende que aumentos de pensões, de salário mínimo, ou de salários de funcionários públicos abaixo da inflação e com aumento simultâneo da carga fiscal, não são aumentos do rendimento disponível.
Em simultâneo, a ausência de qualificações financeiras representa um enorme risco para qualquer sociedade.
Ter um povo com pouco conhecimento dos mercados financeiros, do seu funcionamento e soluções, reduz a autonomia financeira das famílias e aumenta a sua dependência do Estado.
Assim, a consequência das crises é uma ainda maior desconfiança no sistema financeiro e o ódio ao “grande capital” fomentado por populistas de esquerda e de direita, o que conduz à perda de oportunidades por parte de uma população que, por desconhecimento, se recusa a intervir nos mercados financeiros. Com a consequente perda de oportunidades para gerar recursos financeiros que permitam a satisfação de necessidades futuras.
Já era tempo de os governantes reconhecerem que o investimento em conhecimento paga sempre os melhores dividendos.