Foi em Viana do Castelo que no pretérito fim de semana decorreu a convenção do Chega, encontro este que ademais dos momentos caricatos que proporcionou, trouxe ao país uma nova versão do partido que se deve, essencialmente, à oficialização da Aliança Democrática e consequente afastamento de Ventura.
Este isolamento eleitoral do Chega, aliado às sondagens que projetam o referido como terceira força política mais votada a 10 de março, obriga o seu líder a abdicar da estratégia até aqui implementada, que incidia – quase exclusivamente – na capitalização do descontentamento e revolta dos portugueses, deixando assim de ser um partido meramente de protesto, sendo pressionado para se comprometer com propostas de futuro perante o eleitorado, o que sucedeu na sessão de militantes e simpatizantes.
Perante os seus apoios, o Tom Riddle cá do sítio propõe a medida da pensão mínima igual o valor do salário mínimo nacional. É do conhecimento comum que o salário mínimo sofreu recente alteração, fixando-se agora em 820 euros. Por comparação, a pensão mínima em território nacional não ultrapassa os 300 euros e, o valor médio recebido pelos pensionistas pouco superior é a 500 euros. O aumento da pensão mínima para 820 euros – cuja necessidade aqui não se discute – representa, segundo o Dark Lord, um custo entre 7,5 mil milhões de euros e 9 mil milhões de euros, para que melhor se entenda, mais do que é pelo estado cobrado a título de IRC.
Também foi no encontro apresentado, desta vez pelo deputado Pedro Pinto, a redução das taxas de IVA, focando-se concretamente na (I) diminuição do imposto nos produtos portugueses, (II) na descida no sector da restauração e no (III) repor do IVA ZERO, prolongando-o até término do ano. Acontece que estando Portugal inserido na União Europeia – condição à qual o Chega não objeta – a primeira medida vê a sua aplicação legalmente bloqueada pelas normas europeias a que nos encontramos adstritos. No que tange com o segundo projeto, que já havia sido apresentado por Rui Rio e tendo por referência os cálculos outrora divulgados, constitui despesa na ordem entre 150 a 200 milhões de euros. A reposição do IVA ZERO configura uma perda de receita na ordem dos 550 a 600 milhões, sendo a respetiva aplicação colocada em causa pela hodierna e decrescente tendência da inflação.
Ainda em matéria de impostos, é por Aquele-Cujo-Nome-Não-Pode-Ser-Pronunciado recomendada a extinção do IUC e do IMI, verificando-se no que tange com o primeiro uma depreciação de 500 milhões de euros na receita dos cofres do Estado. No que importa ao remanescente, não só a execução tem como finalidade beneficiar quem é possuidor de património – não afetando diretamente os estratos sociais mais necessitados – como se associa sumiço de 1,5 mil milhões de euros no produto do estado.
Passando para as carreiras na função pública, o Chega – tal como o Partido Socialista e o Partido Social Democrata – indicam a reposição do tempo de carreira dos professores, quadro que se vêm perpetuando na ordem do dia da política nacional, do qual a Unidade Técnica de Apoio Orçamental ainda não iniciou estudo por forma a contabilizar o impacto da medida.
Na mesma senda, é prometido por Lord Venturamort a equiparação dos subsídios de risco de todas as forças de segurança aos da Polícia Judiciária, o que – independentemente do conceito de justiça aqui patente – implica, por força do elevado número de agentes da GNR e PSP, uma despesa 50 vezes superior à até aqui empregue neste âmbito.
Inobstante a crença e convicção política de cada um, facilmente se depreende que Ventura se encontra em posição de maior conforto quando se limita ao uso da retórica de desagrado, sem que se obrigue a pensar o futuro do país. Quando assim é caso, demonstra-se com esta medidas que ou retiram receita ao Estado ou devolvem/oferecem dinheiro aos contribuintes, que só por mera magia tal cenário seria exequível para a realidade económica do país, evidenciando a ausência de coerência e honestidade intelectual do candidato e provando que, por muito bom feiticeiro que seja, não se encontra preparada para deter poder de decisão e ser governante deste país.