Quando falamos de extrema-direita francesa viramo-nos logo para Marine Le Pen, fiel aliada europeia de André Ventura.

Todavia, se atentarmos à politica nacional francesa, não só nos deparamos com o facto de que a política de Marine Le Pen se tem moderado por razões óbvias, dando espaço a que Éric Zemmour incorpore essa mesma narrativa, como também que, Marine já não é a Marine Le Pen e há um novo adversário na liga.

Esse mesmo adversário trata-se de Jordan Bardella, um jovem dos seus 28 anos, presidente do ‘Rassemblement National’, partido de Marine Le Pen, e das figuras à direita mais adoradas e aclamadas atualmente em França.

Pouco adepto do politicamente correto, carismático de fortes convicções, no alto da sua juventude corroborando a vitalidade da direita francesa e a presença de sentimentos nacionalistas, Bardella já é chamado à comunicação social em substituição, muitas das vezes, de Marine. Através desse entendimento, muitos são aqueles que acreditam que nas próximas presidenciais de 2027, Bardella, com toda a popularidade que tem e tem vindo a acumular, juntamente com o facto de não carregar o apelido ‘monstruoso’ ‘Le Pen’, é candidato a Presidente da República Francesa. Marine, por sua vez, ficaria elegida como putativa Primeira-Ministra, cumprindo com o desígnio de uma vida: o de governar, ainda que, em funções de menor poder pelo sistema eleitoral em vigor.

A cisão e a multidiversidade cultural em França acrescem todos os dias e, a par disso, a violência entre culturas e religiões. Todas as semanas em França se dão, atualmente, manifestações contra muitas das políticas de auxílio a imigrantes ilegais, contra aqueles que não são punidos pelas forças policiais, contra aqueles que sobrevivem e sobrecarregam a Segurança Social Francesa levando-a a uma das maiores dívidas europeias, assim como contra todos aqueles que ameaçam os valores franceses, a comunidade francesa e a identidade cultural.

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Bardella é assíduo nesta matéria. Não falha um debate com a extrema-esquerda. Apela aos movimentos e às revoltas sociais. Tem a capacidade de ir buscar as camadas mais jovens para lutarem pela ‘causa da sua vida’. Ainda que, tudo isto, com uma oratória complexa. Não muito radical para ir buscar ao partido de Emmanuel Macron ‘Renaissance’ e ao Partido ‘Les Républicains’ votos necessários. Mas não demasiado politicamente correto e de centro-direita para apelar ao voto útil dos votantes e apoiantes de Éric Zemmour no seu partido ‘Reconquête’.

O que é certo é que, com os últimos acontecimentos em França que levaram à morte de Thomas, um adolescente de apenas 16 anos assassinado na região de Drôme e que, ao tudo indica, fora cometido por um grupo de 9 adolescentes, todos eles extremistas ligados à comunidade muçulmana, a direita francesa e o respetivo eleitorado encontram-se ao rubro.

Verdade ou mentira, pouco importa. A partir do momento em que esta correlação se coloca em cima da mesa, os temas da insegurança e da imigração são logo alvo de debate e as primeiras pastas a serem levadas em conta remontando a todos os franceses. Consequentemente, toda a agenda política se volta em torno destas mesmas duas questões, obrigando os próprios políticos a direcionarem-se para as temáticas assinaladas, tal como a própria comunicação social, proporcionando o caos e o terror.

Mas, pelas razões descritas, este será um problema para Jordan Bardella, muito dificilmente para Marine Le Pen, que já não se deve candidatar dada a nítida e clara notoriedade de Bardella. Não faria sentido. O resultado eleitoral com o ‘adversário interno’ seria muito mais facilmente alcançável e vantajoso para o principal partido da oposição de Macron.

Com vista a isso, é extremamente provável que em 2027 vejamos mais um país europeu, com o lema da trilogia ‘Igualdade, Fraternidade e Liberdade’ cair nas mãos de uma direita mais radical, se não extremista. Refiro-me como direita radical, neste ‘timeline’, precisamente porque até lá, mesmo que os eventos e contextos o obriguem, o partido continuar-se-á a moderar, no fundo para demonstrar a sua capacidade executiva e governativa. Com um compasso de tempo de quase três anos, a composição de políticas alternativas, ainda que com uma agenda e objetivos políticos já bastante vincados, é o suficiente para as pessoas procurarem a alternativa e a mudança. A par disso, hoje em dia, já se deu o início de uma tese na opinião pública de que, quando um partido extremista entra no governo, ou lhe é fornecida alguma pasta, tende a moderar-se e a governar em prol do país, ainda que com os ideais patentes. Esta mesma proposição é perigosa que circule. Apesar de ser verdade, nem sempre se pode demonstrar em prática.

Tomemos igualmente atenção se começa a surgir alguém de um partido mais moderado no espectro francês, que capte as atenções e consiga absorver o programa político da extrema-direita, esvaziando-a e apanhando todo esse eleitorado através de propostas bastante mais racionais e robustas.

Seria interessante. É esperar para ver.