O Tuga, dentro das suas variadas virtudes, não abdica de um certo masoquismo do qual não se consegue afastar. Faz lembrar aquelas pessoas que, em dias de chuva, fazem questão de conduzir ao som de uma música triste, enquanto desesperadamente puxam por aquela lágrima que teima em não cair. Isto, até certo ponto, pode ter a sua piada, ser característico e tal, mas andamos a transpor isto para coisas sérias.

Nos últimos anos, num país sem visão e com um governo de gestão, lá fomos vivendo, ou sobrevivendo, algo que tem sido motivo de regozijo em Portugal.

Somos tolerantes com a mediocridade, pouco exigentes com os nossos direitos, e desvalorizamos o sentido democrático que tanto trabalho nos deu a alcançar. Marimbamo-nos para a Educação, não sabemos como queremos formar as próximas gerações e continuamos a olhar para o ensino como há 20 anos atrás.

Desvalorizamos quem, corajosamente, emigra à procura de condições que não são dadas em Portugal, pois preferimos viver num país igualitariamente pobre, que anda mas não avança, em vez de num país próspero e meritocrata. Vivemos a trabalhar para alimentar um Estado gordo e despesista, com níveis de IRS e IRC que estão no limiar de ser tipificados como crime público, e no qual não existem políticas que fomentem o crescimento do país, nem que o tornem mais competitivo pois, na prática, parece que curtimos ser os coitadinhos da cauda da Europa, até porque tendo mais de metade da população (funcionários públicos, pensionistas, subsídio de desemprego, etc.) a depender do orçamento de Estado não convém mexer muito no estado das coisas.

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Na Saúde, nem apanhando o estalo de uma pandemia conseguimos perceber a autêntica anedota que é a forma como este setor é encarado, num país onde ou se tem dinheiro para ir a um privado, ou se desespera na longa fila de espera de um hospital público.

De que nos serve ter três mil quilómetros de autoestradas, se não temos dinheiro para atestar o depósito do carro para nelas andar?

E sobre a Justiça? A mora sobejamente conhecida de qualquer processo, a juntar à corrupção instalada a que assistimos passivamente, falam por si. O que sobra? A cultura na qual não apostamos? A inovação em que achamos que basta usarmos termos linguísticos em inglês para sermos muito vanguardistas e tecnológicos? O turismo? Talvez neste último até nos safemos, mas, diga-se de passagem, com a sorte de um País que nasceu num dos pedaços mais bonitos da Terra, este é um setor que funciona praticamente sozinho – mas até aqui, ficamos muito aquém do nosso potencial.

Como disse há uns anos José Sócrates, mentor de António Costa, num discurso em que a boca lhe deve ter fugido para a verdade, estamos a contribuir para “um País mais pobre!”, onde o PS pode ser um conhecedor nato dos seus “boys” e do seu partido, mas é um desconhecedor profundo do estado e da realidade de Portugal. Como diria também António Guterres, outro mentor de António Costa, vivemos num “pântano político”. O grave? O grave é o estado de negação do Tuga, com comportamentos como os de alguém com problemas de bebida, de jogo, ou de um outro qualquer vício, que sabe que leva uma vida miserável, queixando-se a toda a hora do mundo em que vive, mas que, quando se fala da possibilidade de ter ajuda, ou de lhe ser proporcionada uma vida melhor, rejeita qualquer destas opções, porque isso implica mudança e o Tuga não vai muito à bola com mudanças.

Não queremos ser mais do que o simples Tuga do “Big Brother” ou do “Somos Portugal”? É estranho a insistência em continuarmos a ser conformistas, politicamente preguiçosos e desinteressados pelo que rege as nossas vidas. Já sei que somos, ou fomos, muito grandes no passado, mas pouco interessa os grandes feitos de outrora. A teórica hegemonia do mundo, até porque, convenhamos, hoje em dia ninguém no mundo nos reconhece como coisa nenhuma, sirva para nos questionarmos sobre o que se terá passado para termos tido um tombo tão grande e termos sido reduzidos a uma insignificância tão aguda que, pelos visto, continuamos a alimentar.

Urge que se faça, se pense e se discuta sobre o espaço político em Portugal, sobre alternativas e não alternâncias. Não se trata só de protagonistas, mas sim das suas ideias, projetos e forma de fazer política pois, só assim, será possível acabar com a abstenção e meter a malta a votar. O facto de apenas se começar a fazer oposição no último mês de campanha, pagou-se com uma maioria absoluta entregue ao PS, que até o próprio surpreendeu. Historicamente já sabemos a hecatombe que se avizinha daqui a quatro anos, faltando apenas saber qual o nome cool que será dado à geração que terá que suportar essa crise e que pagará pelas escolhas, pouco ambiciosas, de quem preferiu continuar a ser masoquista.

Como diria Miguel Torga, “Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão”.