“É o pai do Bordallo segundo?”, respondeu, tentativamente, a criancinha. Foi há mais ou menos um ano, numa televisão qualquer, quando passou uma reportagem sobre um passeio cultural em torno da Lisboa de Bordallo Pinheiro. Às tantas, a jornalista debruçou-se sobre a miúda e perguntou-lhe se sabia quem tinha sido Bordallo Pinheiro. Se havia um pinheiro, devia haver um segundo. Valia a pena arriscar, porque podia acertar em cheio e dar a resposta certa.

Por estes dias, ando-me a sentir ainda mais ignorante, e com menos desculpas, do que a criancinha. E tudo por causa dos Prémios Pessoa. Dantes sabia quem eram: José Mattoso, José Cardoso Pires, Menez, Fernando Gil… Agora, acontece-me muitas vezes nunca ter antes ouvido os nomes. Acontece-me quase sempre, é verdade, com os obituários da Economist, às vezes a única coisa que leio da revista, para ter a exacta noção da vasta dimensão da minha ignorância do mundo. Quando conheço alguém, como, no outro dia, Stephen Cleobury (do coro do King’s College de Cambridge), é uma festa, por mais triste que seja. Mas com o Prémio Pessoa estamos a falar de portugueses, praticamente de vizinhos, e é um vexame este atestado de ignorância que o ilustre júri do prémio me passa regularmente.

Isto tudo para dizer que não me lembro de ter ouvido falar de Tiago Rodrigues, embora não me tenha perguntado se não seria, por acaso, filho de Tiago Brandão Rodrigues. De qualquer maneira, não convém perder estas oportunidades para alargar o nosso espírito e, como não duvido da ponderação da escolha (não duvido mesmo), lá li as notícias que saíram nos jornais, bem como a entrevista, conduzida por Bruno Horta, que o Observador publicou. Das notícias, fiquei a saber que o director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, decidiu boicotar em 2018 o festival para o qual tinha sido convidado em Jerusalém por ter sabido que esse festival participava das comemorações dos 70 anos da existência do Estado de Israel e, na informação disponibilizada, não mencionava criticamente a conduta de Israel face aos palestinianos. O boicotismo a Israel é tão frequente em certos meios artísticos que passei por aquilo sem quase prestar atenção, como o psicólogo pavloviano que vê o cão a salivar pela enésima vez.

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