O Irão atacou Israel e os festejos em alguns sectores da rua muçulmana foram amplamente divulgados e amplificados pelos órgãos de “informação” do costume. A festa foi rija e decalcada do roteiro que nas mesmas ruas ocorreu há 24 anos, no seguimento dos atentados terroristas da Al Qaeda, em Nova Iorque. Trata-se em suma, de uma visão futebolista do mundo.

Na altura, além desta rua muçulmana, certos sectores da esquerda ocidental, faziam também o jeito ao pé, e bailavam no mesmo delirante êxtase “anti-capitalista”.

Era o tempo em que o “nosso” Miguel Portas, do Bloco de Esquerda, visitava Hassan Nasrallah, prestava-lhe vassalagem, e confessava a sua acrisolada admiração pela criatura.

Ontem, os festejos vieram também da CNN Portugal, onde o inenarrável general Agostinho Costa, excitado como uma adolescente no concerto de uma “boys band”, dava conta dos estratosféricos sucessos dos mísseis dos aiatolas.  “Foram 90%, sotor”– garantia.

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“Como sabe?”– perguntava-lhe o jornalista — “não temos nenhuma informação nesse sentido”. O general Costa gaguejava que tinha vídeos e mandava “contar as bolinhas”. “Oh sotor, as bolinhas que batem no chão, são mísseis que atingem os alvos, sotor. O Irão destruiu os sistemas Arrow, a base da Mossad, as plataformas de gás, etc.”, regozijava-se o general.

Enquanto o general Costa vive um dos seus efusivos, numerosos e anedóticos momentos “os russos já estão em Kiev”, uma pequena nota, que esperamos não seja lida pelo general, para não passar repentinamente do estado maníaco ao afundamento depressivo:

A maior parte das “bolinhas” eram destroços de mísseis destruídos no ar, que se incendeiam no atrito com a atmosfera. Fenómeno físico, que um general a sério deveria conhecer se, em vez de andar a deglutir sem mastigar vídeos do Tik-Tok, se lembrasse das aulas de Acústica, Óptica e Calor da Academia militar, e atentasse no cuidado com que os programas espaciais tentam isolar os veículos de reentrada, justamente porque tendem a ficar incandescentes, produzindo as tais “bolinhas” que fascinaram a criatura.

Mas o general é já inimputável, ultrapassou todas as linhas do bom senso e da honestidade intelectual e, presentemente, serve apenas de bufão de serviço na CNN, como aquele personagem “firme e hirto”, que marcava presença nos programas do Herman José, justamente para suscitar a chacota e a vertigem do ridículo, atraindo certas audiências.

Quanto ao ataque do Irão, e abstraindo das “bolinhas” do general Costa, é basicamente uma manifestação de desespero, porque surge num momento crítico para o caríssimo conglomerado terrorista que o Irão foi construindo, no Médio Oriente.

O Hamas está reduzido a pequenas flagelações que se irão reduzindo à medida que lhe forem faltando as munições, as armas e a vontade.

O Hezbollah, do “humanista” Nasrallah (segundo a hagiologia embevecida que lhe terá feito uma certa dirigente do Bloco de Esquerda), que passou num instante do Capitólio à rocha Tarpeia, isto é, da farronca arrogante ao paraíso das 70 virgens, está em cacos, com as cadeias de comando e controle desorganizadas, e a maioria dos seus mísseis de largo alcance neutralizadas.  Combate nos buracos e túneis, mas deixou de repente de ser aquela ameaça estratégica que praticamente todos acreditavam ser. O seu futuro não é auspicioso, até porque as restantes comunidades libanesas começam a tomar o pulso ao movimento terrorista que tomou o efectivo controlo do outrora florescente país.

Os houthis, cada vez que lançam um foguete festivo, e reivindicam grandes vitórias pela boca daquela personagem cómica que surge na televisão aos berros, em estilo norte-coreano, sofrem um ricochete devastador.

Os aiatolas sentem a percepção de fraqueza e perante o desmoronar de toda uma estratégia  que visava a paulatina asfixia de Israel, optaram por fugir para a frente, como aqueles loucos que, enraivecidos, desatam aos murros nas paredes.

Para quem não sabe, a cosmovisão da República Islâmica assenta no famoso, e porém tão ignorado, livro de Khomeini (Velayat-e Faqih), de 1970, onde plasmou os pilares da Revolução Islâmica: a inimizade existencial aos EUA e a Israel, o Grande e o Pequeno Satã, e a exportação da Revolução Islâmica, versão xiita.

Ao tomar o poder, após a fuga do Xá, contou também com o entusiasmado apoio do Partido Comunista Iraniano, o Tudeh, e é crível que se Miguel Portas e outras luminárias da esquerda ocidental o tivessem conhecido, ficariam tão excitados como o general Costa.

Obviamente, mal se apanhou com o poder nas mãos, o aiatola livrou violentamente os idiotas úteis das respectivas cabeças.

Mas no Ocidente, a ignorância perante esta teocracia milenarista, é vasta e perigosa. Muitos políticos acreditam nas falácias dos “reformistas” e dos “radicais”, e falam por cima do que eles dizem, dando-se a “interpretações” apaziguadoras.

Pois bem, foram esses “reformistas” que em 2000, atribuíram um doutoramento honoris causa a Nasrallah, o “humanista”, na Universidade Tarbiat Modares, de Teerão.

Foi Khomeini quem, em Qom, em 1980, disse que: “Nós não adoramos o Irão, mas sim Alah… que esta terra arda se tal for necessário para que o Islão triunfe”, mas foi o “reformista” Rafsanjani que, na década de 90, reiterou, com todas as letras e total clareza, que “uma bomba atómica será suficiente para destruir o regime sionista, mas uma resposta sionista apenas causará danos ao mundo islâmico, que sobreviverá

Foi Khomeini quem formou a “Frente de Resistência”, e foi Khamenei que tornou o Hezbollah no principal activo do Irão, no produtivo negócio do terrorismo transnacional, tráfico de droga, lavagem de dinheiro, etc. Foi também Khamenei quem determinou a instalação nas cidades iranianas de relógios para fazerem a contagem regressiva para a destruição da “entidade sionista”.

E, já agora, foi Amadinejah, então presidente da Câmara de Teerão, quem mandou construir uma faustosa e ampla avenida para acolher o “Mhadi” que haveria de aterrar ali, para liderar os fiéis na luta final contra os inimigos do Islão. E foi esta personagem, com aspecto de Tulios Detritus quem foi logo a seguir promovido a Presidente da República Islâmica, em vez de ser internado num hospício.

O mundo ocidental, encarcerado numa mentalidade chamberlânica, recusa-se a encarar o facto de que a teocracia islâmica, é o principal disruptor da região e estende já a sua nefasta influência aos mares próximos, interrompendo as linhas de comércio, à América do Sul e à Europa, onde nos dias que correm, são utilizados centenas de drones e mísseis iranianos, na virtuosa parceria com o outro grande agressor dos nossos dias, a Rússia.

Os líderes ocidentais, particularmente os europeus, tudo fazem para apaziguar os aiatolas, interpretando os seus actos, compreendendo as suas justificações, condenando e vilificando Israel, minando a sua legitimidade, invertendo a culpa, tentando manietar este pequeno país, sugerindo até embargos de armas e munições a uma democracia que, sob ataque impiedoso de todos os quadrantes, luta simplesmente pela sua existência. Há dias, Catarina Martins, Marta Temido e outras figurinhas do Parlamento Europeu, produziram até uma petição nesse sentido, como vem sendo tristemente habitual em todos aqueles que usam a “causa palestiniana” como eufemismo retórico para poderem verbalizar livremente o velho ódio milenar que lhes ronrona no peito.

Guterres, o pantanoso português que lidera vergonhosamente a ONU, é até incapaz de condenar o terrorismo contra Israel sem um “mas” logo a seguir, não consegue sequer soletrar a palavra “Irão”, na referência à chuva de mísseis que este país lançou sobre Israel, mas não tem quaisquer restrições na manifestação da profunda hostilidade a Israel.

E no entanto, é este pequeno país, do tamanho do Alentejo, que, praticamente sozinho, se levanta para enfrentar a rede terrorista às ordens do Irão e mostra aos timoratos europeus, que os tigres de papel não se neutralizam com apelos ao “cessar-fogo” e platitudes semelhantes, mas que só a força e a determinação os podem expor e relegar para o caixote do lixo da História.

Ontem o Irão tentou desesperadamente fazer o seu gesto “Deuladeu Martins”, na esperança de que Israel se atemorize e reverta à equação anterior, ou seja, “Eu, Irão, ataco a tua casa com os meus proxies, quando me apetecer, mas tu não podes atacar a minha”.

Israel mostrou que não vai mais aceitar essa equação suicida.

O Irão vai receber brevemente a resposta que mais ninguém se atreveu a dar-lhe (e recorde-se que os aiatolas já lançaram mísseis sobre a Arábia Saudita, o Curdistão, o Paquistão, e bases americanas) e os aiatolas irão gradualmente perdendo a capacidade de reconstruir os seus tentáculos.

É pena que a fraca Administração Biden se oponha a uma retaliação sobre o programa nuclear iraniano, parecendo não entender que este é o momento no qual essa decisão faz todo o sentido.

Na região, muitos estão à espera desse momento, porque todos já perceberam, ao contrário da Europa e dos generais tartamudos, que a revolução que o Irão anda a exportar há anos, se resume a um cortejo sangrento de destruição, devastação, fanatismo, fome e terror, que se exponenciará no exacto momento em que consiga colocar uma bomba nuclear na cabeça de um míssil.

Não foi por acaso que nas ruas do Médio Oriente, incluindo o próprio Irão, muita gente comemorou a morte de Haniyeh e Nasrallah.

O ataque iraniano da última noite, poderá muito bem vir a ser o canto do cisne do regime teocrático, assim os países ocidentais tenham a coragem de agir, como Israel o faz. Ou, no mínimo, não atrapalharem, à espera de milagres.