O Serviço Nacional de Saúde encontra-se em ruptura, a problemática da emigração é uma constante e veio para ficar, o envelhecimento populacional e a falta de políticas de incentivo à natalidade são bastante significativas, a seca insiste em perpetuar-se afectando ainda mais o nosso sector primário – mas, pasmem-se, ainda não existem soluções nem propostas para fazer face a estes obstáculos. Contudo, existe algo que nunca desaparecerá – os fetiches ideológicos. Com a quantidade de temas prioritários que temos diante nós, o Bloco de Esquerda, por puro fetiche ideológico, apresenta um projecto de lei que prevê a legalização da canábis para uso pessoal.

Em Portugal, nomeadamente nos indivíduos mais jovens, a canábis é a droga que apresenta as prevalências de consumo mais elevadas. Mas esta afirmação que, infelizmente, corresponde à realidade, tem uma razão de ser. Ao longo das últimas décadas têm-se conotado a canábis como sendo uma droga leve e, por isso, inofensiva. Muitos consomem esta droga para “relaxar”, outros para passar o tempo, mas independentemente do porquê de a consumirem, todos esperam o mesmo resultado – ficar sobre o efeito do estupefaciente. Pouco se fala dos riscos que esta droga acarreta para a saúde e das possíveis consequências que do consumo podem provir. Temos de acabar com os mitos sobre a canábis, pois esta não é uma droga leve, muito pelo contrário, e o Bloco de Esquerda, ao levar um projecto de lei sobre a legalização desta droga, não está a pensar no bem-estar das pessoas, antes está a contribuir para a destruição da saúde destas e, em último caso, das suas vidas.

Segundo estudos realizados pelo SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências), a prevalência do consumo de canábis ao longo da vida entre os 15 e os 34 anos aumentou de 14,4% em 2012 para 15,1% em 2016. Este dado estatístico leva-nos à desmistificação de um dos mitos mais vulgares sobre a canábis, que é justamente o de que esta não cria dependência. E o relatório anual de 2019, feito pela mesma entidade, revela que 55% dos consumidores inquiridos consomem canábis diariamente. Além da dependência que a canábis cria no consumidor, também verificamos outros efeitos negativos. O Doutor João Gama Marques, psiquiatra no Hospital da Luz, redigiu um artigo de análise baseado em estudos e em comportamentos que visava alertar para esses mesmos efeitos negativos causados pela canábis. Entre os efeitos, o autor refere euforia; exagero; alucinações; agressividade; défices de memória e descoordenação. Já como consequência a longo prazo, o autor refere diversos problemas associados ao consumo, tais como perturbação de pânico; perturbação de personalidade; depressão; perturbação bipolar; doenças respiratórias; doenças cardiovasculares; esquizofrenia; psicose tóxica canábica; e toxicodependência.

Segundo um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, entre 2000 e 2015, “as hospitalizações por surto psicótico ou esquizofrenia em pacientes que têm consumos de cannabis registados aumentaram quase 30 vezes no espaço de quinze anos, em Portugal”. O estudo revela ainda que, entre 2000 e 2015, foi registado um aumento de 20 internamentos para 588, associados a perturbações causadas pelo uso da canábis. Um dos dados mais interessantes referidos neste estudo tem a ver com os gastos que o Estado acarreta com estas hospitalizações. Diz o estudo que as hospitalizações causadas por uso de canábis ascenderam desde 2015 a 2100 pessoas, tendo a globalidade de internamentos por uso de canábis acarretado um custo de cerca 11,3 milhões de euros para o Estado, correspondendo a uma média de 3500 euros e 19 dias de internamento por cada episódio.

Não podemos continuar a abordar a problemática do consumo e da legalização da canábis de um modo “leve”. Temos, sim, de avançar com projectos de consciencialização e sensibilização para os perigos do consumo da canábis, principalmente nas gerações mais jovens. O que o Bloco de Esquerda está a apresentar não é um projecto de lei a favor do interesse e do bem comum, mas sim um projecto de lei motivado por fetiches ideológicos que podem ter como consequência a destruição da saúde física e psicológica das pessoas e, em último caso, a destruição da vida das mesmas a longo prazo.

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