O primeiro-ministro português, esta semana, concedeu uma entrevista à revista Visão onde disse, entre tantas outras coisas, para nos habituarmos. No auge da sua prepotência, aliás, como é seu apanágio, António Costa criticou veemente a oposição, dizendo, “habituem-se, vão ser quatro anos […]”. Mas a questão que se coloca, afinal, é: vão ser quatro anos de quê?

Certamente que o grosso da população, nomeadamente os que deram a maioria absoluta a este Governo, já estão mais do que conformados e não esperam mudanças. Aliás, foi exactamente por esse motivo que votaram no actual primeiro-ministro, para tudo se manter como está. Esta maioria da população está conformada com a estagnação do país. Está conformada com o tenebroso inverno demográfico que estamos a enfrentar. Está conformada com a ausência de literacia financeira e política a nível nacional. Está conformada com os tempos de espera superiores a cinco horas nas urgências. Está conformada com o facto de mais de um milhão de portugueses não terem médico de família. Está conformada com o facto de sermos dos países onde os jovens mais tarde saem de casa dos pais. Está conformada com o facto de sermos o oitavo país com rendimentos mais baixos da União Europeia. Está conformada com o facto de o país que outrora fora o mais pobre da Europa estar a ultrapassar-nos no PIB per capita. Está conformada com o facto de termos uma taxa de abstenção superior a 47%. Está conformada com os constantes casos de corrupção. Está conformada com o facto de se beneficiar as relações interpessoais ao invés de se beneficiar o mérito. Está conformada com o facto de termos um Governo paternalista que prefere a subsidiodependência à emancipação da população. Está conformada com o fracasso.

E é precisamente por todos estes motivos que não compreendo o porquê da expressão “habituem-se”, proferida pelo primeiro-ministro, uma vez que a maioria da população que vota já está, efectivamente, mais do que habituada e conformada com o estado actual do país, caso contrário não teria dado a maioria absoluta ao Partido Socialista. E, no fundo, é apenas isto que pretendem. Alguém que seja capaz de manter tudo como está, que não faça reformas, ou pelo menos grandes reformas, que garanta o presente, que não se importe com o futuro nem com a justiça intergeracional. O Partido Socialista quer estagnação, quer manter o seu eleitorado e governar apenas de modo a perpetuar-se no poder. É esta a estratégia, focada nos pensionistas.

A expressão infeliz utilizada por Fernando Medina há uns dias reflecte o sentimento de todos aqueles que já se conformaram com o estado da nação e não esperam melhor do que isto. Quando um ministro das Finanças diz que, “não queremos crescer, queremos outras coisas”, certamente que estará a falar desta inacção e estagnação. Afinal, em 27 anos, 20 deles foram governados pelo Partido Socialista. E o povo, sereno, acata e aplaude, porque entrámos num ciclo vicioso de dependência, em que esperamos constantemente pelo Estado para resolver os nossos problemas. Quase como se fôssemos filhos de mão estendida à espera da mesada dos pais, mas com uma particularidade, é que estes pais estão falidos e vivem do dinheiro da avó – a União Europeia.

Por isso, senhor primeiro-ministro, tem uma grande massa da população já habituada. Mas relembro-lhe que, enquanto a conformação é o maior sossego para os que nada conseguem acrescentar, é o maior sufoco para os que ainda ambicionam e aqui permanecem por amor a Portugal.

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