Agora que estamos a inaugurar um novo capítulo político em Portugal, é importante que o governo estabeleça prioridades claras que permitam impulsionar o crescimento sustentável do país. No epicentro dessas prioridades está obviamente a mobilidade elétrica, uma peça fundamental para se alcançarem os objetivos de sustentabilidade e neutralidade carbónica definidos pelos países da União Europeia, com vista à neutralidade climática até 2050.

Contudo, para que esta visão se concretize, é essencial olharmos de forma mais abrangente e além da esfera da mobilidade. Aqui, considero essenciais as questões fiscais, de equidade de género, de agilidade burocrática e a macroeconomia.

Em primeiro lugar, no cenário macroeconómico, é fundamental enfrentarmos o desafio da retenção de talento com medidas fortes e eficazes. Portugal investe na formação de profissionais altamente qualificados, mas muitos acabam por emigrar à procura de melhores oportunidades e condições salariais mais atrativas. O governo deve implementar políticas que incentivem a permanência dos talentos nacionais e atração dos internacionais, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de carreiras sólidas e para a geração de valor no país.

Para o efeito, na minha opinião, é crucial reavaliar o encargo fiscal das empresas, estimulando-as a permitir progressão na carreira dos seus colaboradores, com salários mais competitivos. No atual cenário fiscal, as empresas são altamente desincentivadas a aumentar salários, uma vez que o esforço que o aumento representa para a empresa, comparado com a alteração no ordenado líquido do colaborador, é uma conta que compele as empresas ao oferecerem vários incentivos menos o mais importante – um salário competitivo o suficiente para reter talento.

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Num cenário sustentável, é importante perceber que a mobilidade elétrica ainda não é uma realidade em massa, embora em franca curva de crescimento. Desta forma, é importante reavaliar os incentivos na aquisição de um veículo elétrico, para que possamos continuar num ritmo de transição energética que nos permita alcançar os objetivos às quais a UE se propôs.

No âmbito social, é hora de estabelecer condições equitativas para ambos os géneros, especialmente no que diz respeito ao período parental. Ao eliminar disparidades de género neste domínio, não apenas promovemos a igualdade, mas também incentivamos uma participação mais equilibrada das mulheres no mercado de trabalho, contribuindo para o crescimento económico e para a redução das desigualdades que ainda continuam tão evidentes.

Por fim, é imperativo dar um passo na modernização e automatização dos processos de licenciamento, especialmente no que diz respeito à mobilidade elétrica. A lentidão burocrática tem sido uma barreira significativa para o desenvolvimento deste setor. Agilizar os processos de aprovação de infraestruturas de carregamento e simplificar os procedimentos para a introdução de novos veículos elétricos são passos essenciais para acelerarmos a transição para uma mobilidade mais limpa.

As nossas expectativas são elevadas para o setor da mobilidade elétrica. O crescimento acelerado deste mercado não depende apenas da procura do consumidor, mas também de políticas governamentais claras e consistentes.

Sabemos que o novo governo enfrenta um desafio complexo e multifacetado, pelo que a aposta na mobilidade elétrica não deve ser descurada. Além de uma escolha ambientalmente responsável, trata-se de uma estratégia fundamental para se alcançarem os objetivos de sustentabilidade e neutralidade carbónica que vão moldar o nosso futuro comum.