A Igreja Católica viveu nos últimos tempos o Sínodo da Sinodalidade, uma forma nova de ser, sentir e ouvir a Igreja, na pluralidade dos seus membros. Espera-se para breve a publicação do documento final que trará as linhas mestras sobre o que «o Espírito diz às Igrejas?», citando o livro do Apocalipse.
Estar em caminho sinodal pode ser em si mesmo uma redundância, pois a palavra «sínodo» já significa em grego percorrer «o mesmo caminho». Os cristãos, antes de serem conhecidos por esse nome, eram designados por «aqueles que seguiam o Caminho». O próprio Jesus Cristo se intitulou como o «Caminho, Verdade e Vida». São os caminhantes neste mundo ao encontro da nova pátria, a Jerusalém Celeste. A Igreja está sempre em Caminho, sempre em movimento e constante reforma – «Ecclesia semper reformanda».
Não acredito que venham grandes novidades ou alterações após este sínodo, mas apenas se criou uma nova praxis, mais horizontal, de escutar toda a Igreja, na diversidade dos seus fiéis, a partir das comunidades e das bases.
Mas o problema pode residir mesmo aqui. Temos assistido ao esvaziamento das igrejas, à diminuição dos batismos, crismas e casamentos, bem como ao número daqueles que querem seguir uma vocação religiosa ou sacerdotal.
Sem comunidades cristãs vivas e ativas, não existem vocações. Sem ministros que presidam e orientem as comunidades, estas desfalecem, entram em marasmo e os seus membros desanimam e abandonam a vida comunitária.
Os cristãos acreditam que a eucaristia dominical é a fonte e a meta de toda a sua vida espiritual. É lá que alimentam a fé e recebem a inspiração e a força para transformar o mundo, construindo o Reino de Deus, baseado na justiça e na paz. Sem eucaristia não há Igreja, sem Igreja não há eucaristia.
Cada igreja ou capela deveria ter o seu presbítero (padre), os seus diáconos (servidores da Palavra e da Caridade) e muitos outros ministérios. Sem estes ministros, a comunidade não tem quem os oriente, ensine, encaminhe para Cristo, tornando-se como «ovelhas sem pastor», sujeitas aos ataques dos lobos famintos.
Porque não voltar aos tempos do primeiro milénio cristão e voltar a ter homens casados (viri probati, homens provados e maduros) como padres? Se cada comunidade tiver o seu padre, terá celebração eucarística e reunião comunitária. Os diáconos já são na sua maioria absoluta escolhidos entre homens casados.
Porque não voltar a ter diaconisas, na Igreja, como existiram nos primeiros tempos do cristianismo? Elas poderiam mostrar o «lado materno de Deus» na comunidade. Poderiam liderar as comunidades, como tão bem, lideram as suas vidas e as suas casas. Chegariam a periferias que o mundo masculino não consegue chegar. Ao colocar o celibato como uma questão vocacional e opcional, ele seria muito mais valorizado e entendido como um dom e não como disciplina ou imposição.
No meu ponto de vista, há que apostar numa reorganização das comunidades, criando pequenas células vivas e ativas nas localidades. Cada célula seria presidida por um presbítero (solteiro ou casado) ou por um diácono ou diaconisa. O conjunto de pequenas comunidades seria coordenado por uma equipa itinerante de sacerdotes que visitaria e acompanharia as diversas presenças cristãs. E a todas estas equipas presidiria um bispo, sucessor dos apóstolos de Cristo.
Aqueles que sentissem a vocação a uma vida mais radical, viveriam em comunidades religiosas (mosteiros ou conventos) de acordo com as suas missões e carismas, como que seriam oásis de vida espiritual onde todos poderiam retemperar as suas forças.
Pode ser apenas um sonho, mas é o que o Espírito me diz que partilhe…