Como muitos de nós, fui testemunha das mudanças sísmicas que ocorreram no mundo do trabalho  durante os últimos anos. O paradigma de trabalho está em constante evolução, e uma das questões que dominam as conversas é o regresso ao trabalho presencial. Esta tendência crescente de algumas  empresas em forçar o regresso ao escritório levanta questões interessantes sobre a liberdade de escolha e flexibilidade no ambiente de trabalho.

Permitam-me começar por dizer que acredito profundamente na importância do trabalho em equipa e da interação presencial. Criar laços com colegas, trocar ideias numa sala de reuniões e partilhar momentos informais à volta da máquina de café são experiências que enriquecem o ambiente de  trabalho e podem levar a resultados mais criativos e colaborativos. No entanto, também acredito igualmente na liberdade de escolha.

A minha trajetória profissional ensinou-me que todos somos diferentes. As nossas necessidades, circunstâncias pessoais e estilos de trabalho variam amplamente. No meu caso, ser mãe de dois filhos torna o trabalho 100% presencial uma tarefa quase impossível. As preocupações com o trânsito e o  horário de funcionamento da creche criam desafios logísticos significativos. Estou segura de que não sou  a única neste barco. Muitos profissionais enfrentam dilemas semelhantes que tornam o regresso ao  trabalho presencial uma barreira difícil de ultrapassar.

Antes da pandemia, já tive a oportunidade de trabalhar numa empresa que adotava o teletrabalho uma ou duas vezes por semana. Não era algo novo, mas trouxe mais flexibilidade à minha vida.

O cenário atual, moldado pela pandemia de COVID-19 e as suas imposições, mudou para sempre a forma como encaramos o trabalho. A flexibilidade do teletrabalho demonstrou ser um trunfo tanto para  a vida pessoal como para a profissional. Em casa, ganhei a capacidade de gerir o meu tempo de forma  mais eficaz, investindo em formação, participando em fóruns e até escrevendo artigos de opinião como este. A minha produtividade aumentou, e sinto-me mais realizada.

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O que defendo é que as empresas não devem impor rigidamente uma política de trabalho. Devemos ter a liberdade de escolher o ambiente em que somos mais produtivos. Acredito firmemente que, ao forçar os trabalhadores a regressar ao escritório, as empresas estão a perder uma oportunidade valiosa.

A pandemia e as restrições associadas mudaram o jogo. Hoje, é mais fácil do que nunca trabalhar remotamente para uma empresa do outro lado do oceano e ganhar salários que podem ser três vezes maiores do que os oferecidos localmente. As empresas que adotam uma abordagem mais flexível podem atrair talento global, aumentar a satisfação dos funcionários e beneficiar de uma maior produtividade.

As empresas que ameaçam despedir funcionários que não cumpram o trabalho presencial estão a adotar uma postura extrema e, na minha opinião, antiquada. Em vez disso, devem reconhecer o valor da flexibilidade e da liberdade de escolha.

Não estou a dizer que o trabalho presencial não tem o seu lugar. Pelo contrário, acredito que é crucial  para o crescimento e desenvolvimento profissional. No entanto, devemos adotar uma abordagem  equilibrada. As empresas podem implementar modelos híbridos que permitem aos funcionários  escolher quando trabalhar remotamente e quando estar no escritório.

Num mundo em constante evolução, a flexibilidade é a chave para o sucesso. As empresas que reconhecem a importância da escolha e da liberdade de decisão estão mais bem posicionadas para  prosperar. Ao dar aos funcionários a capacidade de equilibrar as suas vidas pessoais e profissionais da forma que funciona melhor para eles, as empresas podem construir equipas mais felizes, mais  produtivas e mais resilientes.

Em resumo, a tendência de regresso ao trabalho presencial não deve ser uma imposição, mas uma escolha. Devemos valorizar a flexibilidade e a liberdade de decisão, reconhecendo que cada indivíduo é único e tem necessidades distintas. É desta forma que podemos construir um ambiente de trabalho mais adaptado aos tempos modernos, mantendo ao mesmo tempo o valor das interações presenciais e da colaboração em equipa.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.