Segundo consta, António Costa tem dois sonhos mas só pode concretizar um: ou bate o recorde de Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro ou vai para um cargo europeu em Bruxelas. Infelizmente, entre os planos do líder do PS não está resolver os problemas de fundo do Estado português: o endividamento que paraliza as políticas públicas e mina o esforço dos cidadãos que pagam hoje os serviços auferidos há anos; a má gestão do SNS que deriva da forma centralista como é feita e das cativações arbitrárias que levaram a que se cortasse a eito em sectores onde a recuperação do dinheiro gasto é imediata, independentemente das consequências para o funcionamento dos serviços de saúde; uma Justiça mal gerida, cristalizada numa época com uma cultura incapaz de se adaptar aos novos tempos; uma segurança social que continua a não garantir que os cidadãos que trabalham possam ter uma reforma que lhes permita viver razoavelmente; uma economia de salários baixos, quando há décadas se disse que essa não seria mais a aposta para o crescimento do país; os preços da habitação que resultam da falta de construção porque o Estado põe entraves ao negócio e também porque os salários estagnaram.

São apenas algumas situações críticas que tínhamos em 2015 e continuamos a suportar em 2023. Com um ponto que deve ser assinalado: hoje estamos pior. Actualmente, estes problemas são mais graves que há 8 anos: o endividamento aumentou de 231 mil milhões de euros, em finais de 2015, para 280 mil milhões, em Maio último. Isto apesar dos juros do BCE extraordinariamente baixos  entre 2009 a 2022;  as listas de espera no SNS, o fecho dos serviços de saúde, as ambulâncias que não funcionam, os partos que não são feitos, as consultas e as cirurgias que são adiadas, numa soma de inúmeros casos que exemplificam a degradação dos serviços de saúde; a Justiça continua desadaptada e o sentimento de desconfiança aumentou, não só porque as pessoas que experimentaram o sistema ficam vacinadas, mas também devido às alterações na PGR que começam a dar os seus frutos; passaram oito anos e estamos todos mais velhos, mais perto da aposentação e, no entanto, a reforma que há 10 anos já vinha atrasada não se fez; a economia depende cada vez mais do turismo, mas isso não chega se não existirem alternativas lucrativas de negócio; o número de portugueses a sair do país continua elevado e, tirando entre 2020 e 2021 devido à pandemia, não desceu dos 80 mil por ano. Portugal é o 8.º país com maior taxa de emigração do mundo. Pior que nós temos a Palestina, Porto Rico, Bósnia, Síria, Albânia, Arménia e a Macedónia, numa lista onde pontua Estados com uma taxa menor que a nossa, como sejam o Sudão, a Eritreia, El Salvador e o Laos. O que procuravam lá fora os Portugueses em 2015? Melhores salários. O que procuram no estrangeiro os Portugueses em 2023? Melhores salários. O que mudou verdadeiramente? Pois.

Um governo deve ser avaliado pelos resultados que produz. O PS é governo desde Novembro de 2015. Se tirarmos os breves interregnos entre 2001-2005 e 2011-2015, os socialistas estão no governo, quase ininterruptamente, desde 1995. São 28 anos. O que fizeram os governos PS para resolverem os problemas de fundo do país? Até se fartaram de trabalhar, só que o esforço despendido não foi para resolver, mas para disfarçar os efeitos que se adivinhavam e que são sentidos com cada vez mais intensidade.

Na quinta-feira, o Governo esteve no Parlamento a debater o estado da nação. Na sexta, o Presidente da República reuniu o Conselho de Estado para discutir a situação do país. António Costa pode ter o dom de torcer os argumentos a seu favor, mas isso não nos serve de nada se não olharmos à distância. Como é que estávamos no passado? Como é que queremos estar daqui a 10 anos? Se o fizermos, facilmente concluímos que o Primeiro-Ministro tem para oferecer uma mão cheia de nada e de coisa nenhuma. Um verdadeiro governo zero que pouco acrescentou e ficará na história como um parênteses em branco.

P.S: António Costa disse, no debate da nação, que Rui Tavares não é oposição. O Livre parece ser para o PS o que o MDP era para o PCP. Um partido satélite a fazer de duplo dos socialistas. As tácticas passadas tornam-se ensinamentos e, quem sabe, o destino do MDP pode bem ser o que Rui Tavares deseja para o Livre.

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