Com este título, “Hamas is the enemy of peace”, o Sunday Telegraph de ontem iniciava um Editorial de rara sabedoria e abrangência. Citando a fonte, julgo estar autorizado a fazer meu o título do Telegraph, bem como a subscrever inteiramente o incisivo argumento ali desenvolvido.

Em primeiro lugar, obviamente, condenando sem reservas o hediondo ataque terrorista do Hamas contra Israel no passado sábado 7 de Outubro: a pior atrocidade contra o povo judeu desde o Holocausto!

Em segundo lugar, lamentando a dissonância cognitiva (para dizer o mínimo) que tem levado alguns comentadores e inúmeros activistas a tentar atenuar – quando não mesmo a negar – a condenação do terrorismo do Hamas, em nome de uma alegada defesa dos direitos dos Palestinianos.

O Hamas simplesmente não defende os direitos dos Palestinianos – submete-os em Gaza a uma cruel opressão, chegando ao ponto de os utilizar vergonhosamente como escudos civis indefesos para as suas bases militares.

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Em terceiro lugar, recordando que não há equivalência moral entre o ataque terrorista do Hamas e o início da legítima retaliação israelita. O primeiro dever de um Estado é defender a segurança dos seus cidadãos. Acresce que Israel anunciou previamente que iria responder e exortou a população civil a evacuar a zona Norte de Gaza. O Hamas, por seu turno, recusou a evacuação – confirmando de forma escandalosa a sua prática sistemática de utilização das populações civis como escudos humanos indefesos das suas manobras terroristas.

É certamente desejável que a legítima retaliação de Israel respeite as leis internacionais e dê provas de contenção. Mas não existe qualquer equivalência moral entre o ataque terrorista do Hamas e a legítima retaliação, com pré-aviso, de Israel.

A este respeito, o nosso amigo Charles Moore (Lord Moore) alerta também no Telegraph (mas desta vez no de sábado último) para uma possível dimensão mais global do ataque do Hamas, apoiado e financiado pelo Irão. Segundo Charles, um “verdadeiro eixo do mal”, constituído pelo Hamas/Irão, Rússia e China, está a atacar concertadamente o Ocidente democrático e liberal – que eles colectivanente consideram “decadente” e incapaz de se defender.

Finalmente, um esclarecimento acerca deste Ocidente que o eixo do mal quer destruir. Um erro, de sinal contrário ao da desculpabilização do Hamas, está a ocorrer em alguns sectores da chamada direita que atribuem globalmente à chamada “esquerda” aquela desculpabilização. Como tenho argumentado aqui com alguma insistência, não há uma esquerda, mas várias – uma democrática e liberal, outras anti-democráticas e anti-liberais. E o mesmo acontece com as direitas.

O Ocidente que os conservadores Telegraph e Charles Moore defendem, e que o Hamas odeia, não é da direita nem da esquerda – é de ambas e funda-se no diálogo e na concorrência pluralista entre a direita e a esquerda democráticas. A este respeito, é gratificante observar que o actual líder do Partido Trabalhista britânico, Sir Keir Starmer, condenou veementemente o anti-semitismo do seu antecessor, Jeremy Corbyn – que aliás já foi excluído do partido Trabalhista.

Um erro semelhante consiste em atribuir aos muçulmanos em geral o apoio ao terrorismo do Hamas. Sobre este tema, aqui fica uma tocante citação da “muito conservadora” colunista do “muito conservador” Sunday Telegraph, Janet Daley:

“Sou uma mulher judaica que vive numa comunidade do Norte de Londres na qual lojas de proprietários muçulmanos convivem lado a lado com talhos kosher, charcutarias polacas e um restaurante turco. Tendo vivido aqui muito antes da chegada destes novos residentes, fico constantemente impressionada pela atmosfera tranquila e animada que eles trouxeram consigo. Se somos capazes de fazer isto funcionar nas ruas britânicas – o que é maioritariamente o caso – deveríamos ser capazes de encontrar uma forma de o fazer no mundo.”