Dois meses se passaram desde o último ato eleitoral. Com uma direita enfraquecida pelos resultados, pelo aparecimento de novos atores políticos e, acima de tudo, por guerrilhas internas. Assim, decidi, pela primeira vez, marcar presença no 29º Congresso do “meu” CDS-PP. Importa referir com clareza a minha parcialidade em relação a este partido e, para que nada fique por explicar, julgo ser hereditário na minha família seguir esta doutrina, com a qual me identifico bastante.

A relação quase consanguínea com este azul nasceu por parte do meu avô materno. Homem esse que lutou por todos nós, em busca de uma liberdade universal, no pós-25 de abril de 1974. Desengane-se quem pensa numa liberalização total aquando da queda do Estado Novo. Esse caminho de liberdade foi traçado por heróis, muitos deles ainda hoje anónimos, que fizeram das tripas coração para evitar tornar Portugal numa Venezuela. Assim, só a 25 de novembro de 1975 foi concedida finalmente a liberdade aos portugueses. Nesse período muito devemos ao CDS-PP, um partido fundador da democracia, bem como aos seus simpatizantes que não deitaram “a toalha ao chão”. É assim que eu vejo o meu avô e talvez por isso tenha uma admiração tão grande por este partido, pelo qual foi o primeiro candidato à câmara de Fafe.

Explicadas as minhas motivações e exaltados os supracitados heróis de Novembro, direciono as minhas atenções para o congresso. Cheguei cedo, muito cedo, e já havia bastante gente nas fileiras. À medida que se foi aproximando a hora da apresentação das moções de estratégia, o multiusos de Guimarães foi ganhando mais vida. Sentia-se alguma tensão e sensação de estranheza, afinal o CDS-PP nunca tinha ficado de fora da Assembleia da República. O Dr. Francisco Rodrigues dos Santos entrou e fez o seu último discurso como presidente e não poupou nas palavras no que toca a apurar responsabilidades. Foi assertivo, talvez um pouco demagogo. Não sei. Mas a verdade é que despertou algo profundo em mim e noutros congressistas que, diga-se em boa verdade, nunca o apoiaram. Talvez fosse o peso na consciência, talvez a noção de cortes nos altos cargos os tenha assustado. O elefante azul ganhou vida e apoderou-se da sala, o silêncio ensurdecedor ecoava no pavilhão, interrompido por vezes por humildes e tímidas salvas de palmas.

Por outro lado, quando entrou o Dr. Nuno Melo, viveu-se um clima de agitação quase eufórica, por alguns momentos. Como o náufrago que bebe água do mar para matar a sede, o CDS-PP naufragou e foi buscar algo já experimentado e com resultados à vista de todos para matar esta sede metafórica. Francamente, devo realçar a minha admiração para com o Dr. Nuno Melo, um dos políticos mais notáveis atualmente. Porém carrega um fardo demasiado penoso, um fardo de dívidas deixadas por políticos da sua linha ideológica, bem como resultados cada vez menos relevantes. Ainda assim, considero-o uma opção muito válida para a liderança deste gigante adormecido.

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Todavia, durante o seu discurso, o Dr. Nuno Melo cometeu um erro. Um erro que causou alguma agitação nos congressistas. O CDS-PP é um partido grande e, como tal, deve guiar-se acima de tudo pela sua dignidade. Deste modo, parece-me incompatível expressar, em alto e bom som, o seu desejo de resgatar ilustres ex-militantes, como Adolfo Mesquita Nunes ou António Pires de Lima, com a ideia de levar o partido numa direção progressista e vanguardista. Na realidade, o serviço prestado por qualquer militante ou ex-militante que, nas últimas eleições legislativas, foi determinante para um resultado eleitoral negativo, por palavras, declarações, ou mesmo ataques pessoais para com o então presidente do partido, jamais deveria ser readmitido no mesmo. É aqui que divirjo de forma cabal do Dr. Nuno Melo. Estas pessoas lesaram a dignidade do partido para atingir um determinado sujeito, de modo que este obtivesse um resultado desastroso, justificativo para o retorno à doutrina anterior, igualmente fracassada.

Como qualquer ser omnisciente, a política e a ideologia devem evoluir, de modo a atender às reais necessidades dos seus eleitores, sem perder em altura alguma a identidade. A tarefa difícil não reside em ganhar eleições internas, mas sim em revolucionar, de forma concisa e eficaz, a doutrina. Só assim se cativará os jovens. Sim os jovens, os mesmos jovens que tão bem soube aliciar a Iniciativa liberal. Esta soube responder à sua falta de oportunidades políticas e aspirações de um Portugal para todos. Há temas fraturantes no próprio partido e estes devem ser colmatados e inseridos, quer na sociedade civil atual, quer nos costumes que foram sofrendo alterações drásticas nos últimos anos.

Em nota de conclusão, é de extrema importância que a nova direção seja uma bússola com norte para o futuro. Estar na vanguarda é o primeiro passo para um resultado mais positivo e, assim, tornar Portugal um país com todas as condições para prosperar. Igualmente importante será retirar o rótulo de “muleta”, dado que tal não abona em nada às aspirações e potencial do partido. Entoemos todos em bom som que, acima de qualquer individualidade, está a dignidade do partido.