No passado dia 10 de março, Portugal adormeceu ao som da democracia. A canção de embalar mudou e com a mudança, apareceram inúmeras críticas ao espírito democrático. Efetivamente, criticar resultados eleitorais será sempre um exercício antidemocrático. O Chega conseguiu adquirir a confiança de mais de um milhão de eleitores e devemos olhar para os resultados como um efeito da evolução de um país. É evidente que uma democracia saudável passa por uma representação forte de vários partidos na Assembleia da República. De várias ideias e representação de todos os portugueses na sua génese. Um governo deve do mesmo modo, encarar os resultados eleitorais com naturalidade e, pela via do diálogo, colmatar todas as necessidades do país em consenso com outros grupos parlamentares.

A AD, ganhou as eleições por uma margem irrisória ainda com todas as fragilidades do PS. Depois de asneiras, escândalos e demissões massivas, o maior vencedor destas eleições a seguir de André Ventura será o Pedro Nuno Santos. Um ministro incompetente, dotado de um carisma que possibilitou ao eleitorado esquecer todos os casos em que se viu envolvido. Por outro lado, Luís Montenegro, o líder de uma aliança que prometia elevar Portugal a um patamar social e económico melhor, vê a sua vitória curta como uma vitória. O seu discurso nessa noite foi vazio e mostrou uma continuidade do que vem sendo a política em Portugal. Um país não evolui com maiorias absolutas, evolui com a integração de ideias diferentes de várias forças partidárias no mesmo projeto. Portugal é ao dia de hoje um país assente numa governação imutável desde o 25 de abril, ou melhor o 25 de novembro.

Entristece-me a banalização do termo fascismo. O que é o fascismo que no início do discurso de Pedro Nuno Santos os militantes socialistas condenaram na lengalenga “25 de abril sempre, fascismo nunca mais”? É o chega um partido fascista? Parece-me impossível a iliteracia que transborda neste tipo de cânticos. Ora o nosso país é uma democracia e como qualquer democracia vê a mesma ser empoderada pela separação de poderes. O poder judicial, na sua mais alta instância, o Tribunal Constitucional, consagrou o Chega como um partido legal. Logo, sendo um partido legal, não poderá violar a Constituição da República Portuguesa que, no seu artigo 46º, nº4, proíbe a constituição de partidos fascistas. Nesse mesmo artigo consagra-se, também, a proibição de partidos e associações racistas, algo que muitas vezes o Chega é acusado de ser.

Na realidade, o Chega coloca-se no espetro da direita mais conservadora e, como tal, defende ideias conservadoras assentes nos princípios cristãos. Ideias como a eutanásia e o aborto, têm de constar como linhas vermelhas. A moldura penal de determinados crimes é também defendida pelo partido para crimes como a violação, pedofilia e homicídio, algo que considero aceitável tendo em conta a inviolabilidade da vida humana. Quando alguém se socorre do direito para fazer valer o justo, deve ver o infrator sofrer uma consequência proporcional ao dano causado e neste momento é claro que não existe qualquer tipo de proporcionalidade.

Em relação à intransigência e soberba com que luís Montenegro fala de um entendimento com o Chega, considero que para além de ser um desrespeito para com os portugueses que depositaram a sua confiança no partido de André Ventura, é do mesmo modo um desrespeito total para com a democracia e o pluripartidarismo. A concentração do poder político num só partido dá aso ao que temos assistido ao longo dos anos e se a história vale de alguma coisa, esta solução não beneficiou em nada o crescimento de Portugal. Hoje estamos na cauda da Europa, somos no máximo os melhores dos piores. Nós portugueses merecemos mais. Quem votou no Chega não pode ser fascista, racista e xenófobo. Certamente existirão eleitores que o são, como em qualquer outro partido, mas a generalização é inaceitável.

Em nota de conclusão, gostava de deixar uma pergunta. Qual o motivo de censurar o Chega? Afinal não lutamos todos por um país democrático? Por não concordar com os lobbies de esquerda, como a manifestação climática radical e a propaganda a ideologia de género nos termos em que são feitas, isso faz dos eleitores  más pessoas? Todas as manifestações de ódio a quem não concorda connosco são por si só uma afronta à liberdade. Todos somos livres de fazer o que bem entendermos e não devemos de ser insultados impiedosamente por isso. A democracia está a morrer, a imposição da cultura woke começa a alastrar-se para as escolas, universidades e ambientes de trabalho. As pessoas têm medo de se expressar e mostrar o que realmente pensam, sob pena de serem insultadas nas redes ou ameaçadas de violência física na rua. Tenho amigos socialistas, sociais democratas e do bloco de esquerda e todos conseguimos conversar sobre política em jantares e convívios sem escalar para insultos e discussão. Será assim tão difícil para quem governa o país dialogar com quem não partilha dos mesmos ideais?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR