Os jovens portugueses têm, cada vez mais, incentivos para abandonar o país. Depois de anos marcados por uma afluência massiva ao ensino superior, os jovens têm cada vez menos espaço no mercado laboral. A formação em áreas cujas carreiras seriam valorizadas há duas décadas, são nada mais do que promessas infundadas nos dias de hoje. A doutrina que pauta a educação está assoberbada pela sua ineficiência. Ineficiência genérica das instituições, a começar pela família. Não há pais que não queiram um filho licenciado, porém, a escolha da profissão deve ser maior que uma vontade assente em conjeturas desatualizadas. Os pais, já na faixa etária dos 50, olham para a vida da forma que foram educados. Certo será que, na sua época, uma licenciatura era um bilhete de ida para o sucesso. Agora, não passa de uma ilusão de segurança, uma zona de conforto medíocre e desconfortável.

Uma notícia recente dá conta de que 2 em cada 3 jovens, entre os 18 e os 35 anos, auferem, em média, um salário líquido próximo dos 926 euros. A diferença deste valor para o salário mínimo é irrisória no que concerne ao poder de compra. Como irá sair de casa dos pais, um jovem solteiro? A emancipação desta faixa etária é de superior interesse nacional. Deve, o novo governo, criar condições de prosperidade para os mais novos. Salários baixos criam um impedimento de criar condições de estabilidade e poupança o que, no futuro, os impedirá por exemplo de pedir um crédito de habitação. Em Braga, uma cidade grande, mas incomparável a Porto e Lisboa, não há casas acessíveis a jovens. Falo em Braga porque é onde vivo e onde quero construir a minha família.  Para pedir o crédito com 926 euros mensais, só para a entrada, teria de poupar a totalidade do salário durante 24 meses consecutivos. Ainda assim, mesmo sem os impostos inerentes à compra, dificilmente atingiria a taxa de esforço requerida e veria o meu pedido recusado.

Todos os desafios impostos pelo Estado refletem-se diretamente na natalidade. O facto de alguém não conseguir, juntamente com o parceiro/a, comprar uma casa e conseguir fazer face às despesas de ter um filho é um catalisador para a impossibilidade de nascerem mais crianças. Aliado ao facto de as mulheres, de forma errónea e nada ética, serem condicionadas no acesso a determinados cargos de responsabilidade, cujos salários são manifestamente mais vantajosos, apenas por terem o poder de criar vida. Uma receita para o desastre. Assim, mesmo os casais que podem, efetivamente, ter filhos não os têm. Nasceram no ano passado 85.764 bebés em Portugal e foi noticiado com entusiasmo o crescimento percentual face ao ano anterior, porém, o número de óbitos fechou nos 117.809. Embalado por dados percentuais, a diferença entre nascimentos e óbitos ronda os 28%, ou seja, o défice é enorme. Para melhorar a situação, quase um em cada três jovens, com idades entre os 15 e os 39 anos, trabalham e residem fora de Portugal. Deste modo, para além do défice apresentado, muitos desses jovens irão imigrar, o que coloca a segurança social numa pressão tremenda.

São precisos jovens num país e devemos olhar para a educação como um dos principais motivos para a crise social apresentada. Num país onde profissões que não carecem de formação superior têm salários manifestamente superiores ao dos recém-licenciados, devemos enveredar por uma abordagem mais inclusiva e deixar de desprestigiar quem não optou pela via académica. Hoje, essa formação superior, traz recorrentemente um salário inferior. Um bom eletricista ou um bom picheleiro, conseguem auferir tanto ou mais que um bom médico. Os dogmas existem, porém também existe a lei da oferta e da procura. Com o desaparecimento de profissionais nas áreas menos “prestigiadas”, não só assistimos a um aumento do preço para o consumidor final, como a necessidade de procurar mão de obra noutros países. A emigração muito se deve à soberba com que o português olha para determinadas profissões, afinal, ter um curso deve tornar-nos melhores do que quem não os possui. Esta conceção não passa de uma falácia promovida por governos com vontade de apresentar números, em rankings da UE e não movidos pelo real interesse dos Portugueses.

Há muito a mudar, todavia, não é uma mudança que possa ser executada, somente, por um governo. É mais profundo. Precisamos de alterar a forma como percecionamos o mercado de trabalho. Entender, de uma vez por todas, que um curso superior não compra estabilidade, nem tampouco condições dignas de vida. Estamos assoberbados por uma industrialização do ensino, quer seja no número de vagas excessivas no ensino superior, ou mesmo no número de cursos disponíveis na academia. “Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”, honremos Fernando Pessoa e façamos nós, jovens, o quinto império.

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