O acordo entre a Arábia Saudita e a República Islâmica do Irão, anunciado na Sexta-Feira, 10 de Março, em Pequim, parece milagre. Não só porque a “grande discórdia” histórica do Islão entre sunismo e xiismo é hoje representada por estes dois Estados, mas porque a divergência se estende actualmente a vários conflitos – no Iémen, na Síria, no Líbano.
A discórdia entre sunitas e xiitas remonta aos primeiros tempos do Islão, à sucessão de Maomé e do Califado político-religioso. Para a linha dominante, a sunita, a sucessão legítima de Maomé fazia-se pelos que lhe eram mais próximos, os companheiros de campanhas e combates do Profeta: os califas Abu Bakr, Omar, que conquistou o Egipto e a Síria, e Osman. Para os xiitas (shia quer dizer dissidência ou seita) o sucessor deveria ser Ali, que sendo primo e genro do Profeta, casado com a sua filha Fátima, era, familiarmente, o mais próximo de Maomé. E depois da morte de Osman, assassinado no seu palácio de Medina, Ali, aclamado pelo povo, acabou por suceder-lhe. Mas. Ali encontrou grande resistência entre os omíadas da Síria, chefiados por Muawia, e foi morto em Kafa, na margem do Eufrates, em 661.
A sucessão decidiu-se no campo de batalha. Mas os xiitas, vencidos, mantiveram bem acesa a chama da dissidência – e tinham Ali e o seu filho Hussein como mártires. Embora os sunitas dominem largamente o mundo islâmico (serão 90% dos crentes), os xiitas mantiveram bastiões significativos, nomeadamente no Irão e no Iraque, onde estão os seus santuários.
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