O Governo semeou uma nova polémica: a decisão de construir o novo Hospital do Oeste no concelho do Bombarral apenas a partir de dois fatores, o tempo e a distância, ou seja, uma sentença a régua e compasso.

Acontece que esta decisão foi justificada com base num estudo que enviesa a realidade, ou seja, a partir da delimitação de uma região com concelhos a sul que não precisam deste hospital e da alienação de concelhos a norte. A região que serviu de base a esta decisão inclui os concelhos de Alenquer, que é servido pelo Hospital de Vila Franca de Xira, e de Mafra, Arruda dos Vinhos e Sobral de Monte Agraço, que são servidos pelo Hospital de Loures. Porém, não se incluem os concelhos de Alcobaça e de Rio Maior, servidos pelos já obsoletos hospitais de Leiria e de Santarém, respetivamente. Haverá dinheiro para construir um novo hospital e remodelar aqueles dois?

Nos últimos meses, porém, apenas os concelhos de Caldas da Rainha, Óbidos e Rio Maior, por sinal não administrados por socialistas, têm defendido a localização no limite dos concelhos de Caldas da Rainha e de Óbidos. E essa luta continua, já depois da decisão do Ministro da Saúde.

A acrescentar aos fatores já enunciados, incluo, também, a prevista delimitação de uma região (Oeste e Vale do Tejo), bem como o princípio de que um hospital se alimenta de uma cidade e das condições urbanas de comunidade, de recursos e de economia. Ora, o terreno previsto no concelho do Bombarral não tem essa característica urbana, embora cumpra em termos de acessibilidades e, presumivelmente, em zona de expansão.

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Uma outra ideia que não está prevista nesta decisão prende-se com o que fazer aos hospitais atualmente em funcionamento. Com maior premência sublinho o caso do Hospital das Caldas da Rainha, cidade que até nasceu da saúde no século XV, através da construção do primeiro grande hospital português proto-renascentista.

Portanto, uma decisão sobre um novo hospital regional deveria ser acompanhada de uma ideia de reconversão das atuais estruturas hospitalares e, também, do respeito pelas identidades históricas e pelas condições populacionais atuais e futuras de residentes e turistas.

Ter uma visão de futuro não se compadece, apenas, com prazos curtos ou médios. Projetar um novo hospital, num país cada vez mais pobre de recursos para grandes obras públicas, deve ser visto a longo prazo e, portanto, prevendo uma área generosa de expansão, num prazo temporal mínimo de 50 anos, mas também dar-lhe condições urbanas de proximidade desde o início do seu funcionamento.

Não fora o erro de meados do século XX de construir o Hospital das Caldas da Rainha encravado no centro da cidade, depois de ter sido feito o anterior na periferia no final do século XIX, o Hospital do Oeste não seria hoje problema, porque naturalmente se expandia em zona periurbana consoante as necessidades de cada época.

Seria conveniente que se não cometessem os mesmos erros de planeamento estratégico e territorial. Escolher a localização é tão importante quanto o estudo dos ambientes desenhados. Ambas as coisas interferem no desígnio terapêutico e na obtenção de funcionalidade para os prestadores de serviços. O lado humanizado de um hospital começa na sua boa localização e implantação.

O estado de saúde de um grupo populacional num território é definido não só pelos problemas e necessidades em saúde como também pelas respostas sociais a esses problemas, pelo que é necessário basear decisões em critérios transparentes e apoiados em dados quantitativos e qualitativos.