Morrem, em média, cerca de 80 pessoas por dia, devido à patologia cardiovascular. Só o enfarte do miocárdio mata, em média, mais de 12 pessoas por dia. Cerca de oito em cada dez óbitos de causa cardiovascular, que ocorrem precocemente (antes dos 70 anos), podem ser evitados com medidas preventivas.

O colesterol é uma gordura existente no nosso organismo que tem duas origens, sendo uma parte produzida pelo fígado e outra obtida através da alimentação, sobretudo pela ingestão de produtos animais ricos em gordura.

O organismo necessita de colesterol, essencial para produzir as membranas (paredes) celulares, hormonas, vitamina D e os ácidos biliares, que ajudam a digerir os alimentos. No entanto, o nosso organismo necessita de apenas uma pequena quantidade de colesterol para satisfazer as suas necessidades.

Quando o colesterol está em excesso, deposita-se nas paredes arteriais, constituindo placas de aterosclerose (acumulações de colesterol) que reduzem o calibre dos vasos, dificultando o afluxo de sangue aos órgãos e tecidos do organismo. Estas placas podem formar-se em todas as artérias. Se ocorrem nas artérias carótidas estamos perante a doença carotídea, que pode provocar Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC).

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Quando se formam nas artérias coronárias, que fornecem o sangue ao coração, causam a doença das coronárias. Se o sangue oxigenado não chegar em quantidade suficiente ao músculo cardíaco, na sequência de um esforço ou emoção, pode ocorrer uma dor no peito, a chamada angina de peito. Se a obstrução da artéria coronária for completa pode desencadear-se um enfarte do miocárdio. Quando a obstrução se desenvolve nas artérias dos membros inferiores, temos a doença vascular periférica que, no seu estado mais avançado, pode levar a amputações dos membros

Saliente-se que o colesterol elevado não causa quaisquer sintomas. Quando estes surgem, pela primeira vez, podem manifestar-se, por exemplo, sob a forma de dor no peito devido à angina de peito, ao enfarte do miocárdio, ou mesmo por morte súbita. Estamos, pois, perante uma patologia grave em que é fundamental fazer a prevenção.

Quando o médico pede a análise ao colesterol, em geral, são medidos, em simultâneo, o colesterol total, o colesterol das HDL (C-HDL) e os triglicéridos, a cujo conjunto chamamos perfil lipídico. É isto que nos permite calcular o valor do colesterol das LDL (C-LDL), que não é meramente um fator de risco cardiovascular, mas sim, a causa da aterosclerose e, por isso, constitui o principal alvo terapêutico.

Um elevado número de fatores influencia os níveis de colesterol no sangue. São eles:

Alimentação. O consumo excessivo de gorduras de origem animal, como as carnes gordas, o presunto, o leite e queijo gordos, a manteiga, as charcutarias, a fast-food, etc, pode elevar os níveis de C-LDL.

Peso corporal. Ter excesso de peso aumenta o colesterol. Controlar o peso reduz os níveis de colesterol das LDL e tem ainda a vantagem de elevar o C- HDL.

Atividade física. O exercício regular baixa o colesterol das LDL e sobe o C- HDL. Aconselha-se a prática de, pelo menos, trinta minutos diários de atividade física — como a marcha em passo rápido, por exemplo.

Hereditariedade. Os nossos genes determinam em parte a quantidade de colesterol que cada organismo produz. Há famílias em que o colesterol é elevado.

As sociedades científicas europeias recomendam, como valores normais um colesterol inferior a 190 mg/dl, quando se trata da população em geral, enquanto no caso dos doentes com patologia coronária ou outra doença aterosclerótica (AVC, doença vascular periférica, etc.), diabetes ou insuficiência renal, recomendam valores de colesterol inferiores a 175 mg/dl.

A evidência científica mais recente estabeleceu que o colesterol das LDL é a principal causa da aterosclerose, pelo que baixar as LDL passou a ser o principal foco da prevenção e terapêutica da aterosclerose.

Para os doentes de alto risco, o objetivo é atingir um C-LDL inferior a 70 mg/dL. Já para os doentes de muito alto risco, nomeadamente, aqueles que já tiveram um evento aterosclerótico, o objetivo é de C-LDL inferior a 55 mg/dL.

Nas pessoas idosas com mais de 75 anos, mesmo em prevenção primária (ou seja, sem doença evidente) a terapêutica hipolipemiante está indicada, desde que o doente seja considerado de alto risco ou muito alto risco

No que respeita às HDL, níveis inferiores a 40 mg/dl e de triglicerídeos superiores a 150 mg/dl conferem risco cardiovascular acrescido.

Todos os adultos devem, de uma forma geral, medir o colesterol total, o colesterol das LDL (mau colesterol), o colesterol das HDL (bom colesterol) e triglicerídeos, ou seja, o perfil lipídico, pelo menos uma ou duas vezes na década dos 20 anos, três vezes na década dos 30, quatro vezes na década dos 40 anos e anualmente a partir dos 50. Isto, no caso de os valores serem normais e não ocorrerem alterações significativas do estado de saúde.

Por outro lado, pode ser necessário fazer medições mais frequentes, ou até em idades mais jovens, se houver história familiar de doença coronária prematura (se, por exemplo, o pai teve um enfarte do miocárdio antes dos 50 anos), alterações marcadas do colesterol ou do restante perfil lipídico em familiares próximos, ou outros fatores de risco associados, como a hipertensão arterial, a diabetes, etc. O objetivo do tratamento é o de diminuir o risco de doença cardiovascular, através da redução do colesterol das LDL.

É importante voltar a referir que o controlo dos níveis de colesterol deve assentar numa dieta saudável rica em fibra vegetal e pobre em gorduras saturadas, colesterol e ácidos gordos trans (essencialmente produtos obtidos a partir de alguns óleos vegetais).

O controlo do peso, a atividade física regular e não fumar são os companheiros indispensáveis da dieta. O recurso a medicamentos, quando necessário, deverá ser decidido e acompanhado pelo médico assistente, que leva em conta não só os valores do colesterol das LDL, como também o risco global, determinado com base na idade do doente, no género, na pressão arterial, no C- HDL e no tabagismo.

Nunca esquecer que os medicamentos que reduzem o colesterol são mais eficazes quando combinados com uma dieta pobre em gorduras saturadas e colesterol. A escolha do medicamento a utilizar depende de vários fatores, mas as estatinas são geralmente o grupo de fármacos mais utilizados para reduzir o colesterol das LDL e o risco cardiovascular.

Manuel Carrageta é especialista em cardiologia, medicina interna e farmacologia clínica. Presidente do Instituto de Cardiologia Preventiva de Almada, tem competência em geriatria pela Ordem dos Médicos e é presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia e da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

Arterial é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com doenças cérebro-cardiovasculares. Resulta de uma parceria com a Novartis e tem a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. É um conteúdo editorial completamente independente.

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