De acordo com a Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, Portugal regista 742 mil postos de trabalho na Administração Pública (AP) que representam uma despesa anual de mais de 19 mil milhões de euros. Nos últimos 10 anos foram criados mais de 14 mil postos de trabalho e só os salários da AP consomem 90% da receita dos impostos sobre os rendimentos (IRS, IRC, IMI, …).

A educação, a saúde e a administração interna são as áreas com mais trabalhadores. Há uma crescente e legítima preocupação destes trabalhadores por melhores salários, condições de trabalho e oportunidades de carreira, contudo nem sempre é possível responder às solicitações devido aos impactos nas contas públicas.

As decisões erradas do passado limitam muito a nossa ação neste momento e por esse motivo temos que trabalhar para criar condições para investir verdadeiramente na melhoria de vida das famílias. Chegámos a um ponto onde a ideologia passa para segundo plano e o importante é explicar ao país o caminho a fazer e os resultados que se esperam atingir.

Portugal é um dos países europeus com menos funcionários públicos em percentagem do emprego total. Algumas áreas do Estado provavelmente não necessitam de tantos trabalhadores, mas essa análise deve ser desenvolvida de forma séria e profissional, e considero que a discussão essencial é que o Estado e as empresas devem trabalhar alinhados para aumentar a produtividade nacional.

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Por um lado, o Estado não pode perder tanto dinheiro com as empresas públicas, deve explorar melhor o regime das parcerias público-privadas (com base em números e não com base em ideologia), baixar os impostos para estimular o investimento e o consumo, e modernizar os processos para melhorar o bem-estar dos contribuintes e dos trabalhadores.

Por fim, as empresas devem explorar melhor as áreas de especialização, desenvolver produtos e serviços mais inovadores, exportar para as principais economias internacionais e trabalhar com entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional. A ligação das empresas às universidades é fundamental para potenciar redes de conhecimento e desenvolver as regiões e o país.

O principal problema do país não é o número de funcionários públicos. O principal problema reside na falta de capacidade para analisar os desafios e agir em conformidade. Há um medo instalado na nossa cultura que limita a capacidade de preparar o país para desafios crescentes a nível social, demográfico e ambiental. As organizações são lentas na mudança, as públicas e as privadas.

Neste sentido, (i) os responsáveis políticos não podem adiar medidas importantes para o futuro do país com medo de impactos negativos em eleições, (ii) os empresários devem investir mais em áreas estratégicas e na capacitação dos trabalhadores, e (iii) os cidadãos devem questionar, propor soluções e não dar nada como garantido. Não podemos ser o país dos baixos salários.

A pergunta é: o que vamos fazer em relação a isso?