As sondagens políticas nem sempre retratam com exactidão o humor do eleitorado, sobretudo quando se aproxima uma nova eleição. Neste momento, sem votações por perto, é possível que a população esteja menos preocupada com o resultado de uma distante eleição e mais atento àquilo que se está a passar no país neste verão particularmente quente do fogo das florestas e da própria guerra da Rússia contra a Ucrânia, a qual, embora à distância, nos afecta pessoal e colectivamente quer queiramos quer não.
Por quaisquer razões que continuam por explicar plenamente, seis meses após as legislativas de 30 de Janeiro passado, a escassa e inesperada «maioria absoluta» então obtida pelo PS graças à conversão em massa dos eleitores do BE e alguns dezenas de milhar do PCP à última da hora, essa frágil maioria socialista já começou a dar de si com estrondo, colocando de novo a opinião pública praticamente dividida em dois, conforme indicam as últimas sondagens.
Por seu turno, a guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia; a interminável vaga de enormes incêndios florestais; a manifesta falta de serviços médicos; bem como o desencadear da inflação e o rápido aumento dos juros, são outras tantas evidências dos dias muito difíceis que aí vêm e que o governo PS procura desesperadamente varrer para debaixo do tapete! Embora nem todos os eleitores controlem perfeitamente noções como o Produto Interno Bruto e o PIB-per-capita, os altos e baixos destes últimos dão-nos a ideia dos ganhos e perdas dos últimos anos, chegando apenas uma vez o PIB a pouco mais de 200 mil milhões de euros em 2019. Quanto ao ano corrente, é possível que a duvidosa ajuda da inflação faça aumentar o PIBpc mas o poder de compra dos salários e rendimentos será cada vez menor: é para isso que as pessoas estão ou deviam estar a preparar-se, como assinalava a economista Helena Garrido.
Ora, a aceleração da crise já se reflecte na substancial redução da percentagem de potenciais eleitores do PS bem como no aumento das críticas às políticas públicas e ao desempenho dos membros do governo socialista, incluindo o primeiro-ministro, assim como a ministra da Saúde e outros, pois já são 56% os eleitores a querer mudar mais de metade dos do governo. Em suma «o estado da nação» é considerado manifestamente muito pior do que ainda há pouco por 63% dos eleitores mas, com a costumeira prudência do nosso eleitorado, são 69% aqueles que entendem que o actual governo deve ir até ao fim do mandato que acabou de iniciar.
Não é de crer, contudo, que a jornada consagrada pelo Parlamento há dias ao «debate da nação» chegue para alterar os dados de fundo. Segundo os tecnocratas da União Europeia, Portugal teria este ano, graças ao turismo, o maior crescimento do PIB mas, se assim for, isso só se explicaria porque a recuperação do ano anterior foi das mais baixas da União.
Ora a verdade é que os últimos dados do FMI já reviram em baixa significativa o crescimento económico mundial expectável este ano e no próximo, ao mesmo tempo que a guerra continua, a circulação de bens se reduz, a inflação não para e os juros da dívida aumentam universalmente! Entretanto, a aparente facilidade de angariação dos milhares de milhões de euros oferecidos pela UE a fundo perdido continua a esperar, correndo o risco de as empresas seleccionadas pelo Estado deixarem passar o prazo ou, como admitem já alguns críticos, perderem a oportunidade de fazer algo de verdadeiramente inovador.
Para que nada falte ao cenário que se perfila no próximo futuro, o Ministério da Saúde diz-se protegido pela OMS contra a chamada «varíola-dos-macacos» mas a verdade é que Portugal já figura entre os dez países com mais casos, como sucede há muitos anos com a SIDA. Entretanto, a pandemia do Covid-19 não desapareceu do horizonte, juntando-se estas doenças contagiosas à excessiva pressão exercida sobre o SNS, cujo financiamento e efectivo funcionamento excedem cada vez mais a percentagem do orçamento que o governo do PS consegue disponibilizar apesar do fundo duplamente financiado pelos funcionários públicos, a ADSE…
O breve sumário da situação económico-financeira em que o país se encontra e encontrará nos tempos mais próximos não deixará de minar mais ainda os profundos abismos sociais em que a sociedade portuguesa mergulhou de novo, após as reformas impostas pela anterior crise financeira provocada pelo PS, ou seja, os anos em que vigorou a geringonça de má memória e cujo preço teremos de pagar com juros nos próximos anos. Quaisquer partidos e qualquer Presidente da República minimamente conscientes daquilo que nos espera juntar-se-iam num governo de «salvação nacional» que abandonasse qualquer veleidade ideológica e cumprisse rigorosamente as instruções da Europa e do FMI. Fora disso, podemos imaginar o que se vai passar.