Em 1994, Peter Drucker publicou na The Atlantic um ensaio intitulado The Age of Social Transformation. Nesse ensaio, partindo da análise ao século XX, Drucker defendia que as transformações sociais “tiveram um efeito duradouro (…) [que] transformaram não apenas a sociedade, mas também a economia, a comunidade e a política em que vivemos”. O ensaio foca a sociedade como agente de mudança e conclui com a necessidade de inovação social e política como resposta à transformação social, pois, avançava Drucker, o século XXI teria desafios sociais, económicos e políticos contínuos.
Peter Drucker não identificou explicitamente o desafio ambiental como fator de mudança, mas, passados 30 anos, percebemos esse impulso social. Um desafio que precisará de fatores-chave identificados por Drucker em 1994: educação, conhecimento, política e economia. Mas, para além disso, a transformação necessita de equidade. O caminho para a sustentabilidade implica grandes desafios e apenas a equidade e justiça social garantem uma transformação efetiva.
Ações não sustentáveis e práticas negativas sobre o ambiente têm tipicamente um impacto desproporcional, obrigando a uma distribuição justa de benefícios e prejuízos.
Por exemplo, um estudo publicado a 12/01/2022 na Nature analisa as disparidades na exposição à poluição do ar nos EUA e conclui que, embora pouco contribuam para ela, as populações negras, asiáticas e hispânicas estão consistentemente expostas a níveis superiores de poluição do que populações brancas e nativas. O estudo conclui ainda que, apesar da redução global da poluição, as disparidades de exposição persistiram.
Além disso, o sexto relatório de avaliação do IPCC conclui que as alterações ambientais têm um efeito desproporcional sobre pobres, mulheres, crianças, povos indígenas e idosos, em particular de países pobres e regiões periféricas. Um efeito que se faz sentir pela falta ou má qualidade da água, má-nutrição, suscetibilidade a doenças, maior exposição a eventos extremos (como secas e inundações), e perda de produção na agricultura, silvicultura, pesca e aquacultura.
Neste momento testemunhamos já os sintomas da crise ambiental com a seca severa em África, a crise de cólera no Líbano ou os 700 milhões de pessoas que vivem em países com níveis elevados de stress hídrico. Um contexto que se agravará com a procura de água a ultrapassar em 40% a oferta sustentável até 2030 ou as secas sem precedentes no Mediterrâneo, Norte de África e América do sul até 2050. Isto fará com que o mundo desenvolvido, menos vulnerável, sinta primeiro os efeitos da crise humanitária dos migrantes climáticos do que a própria crise climática.
Necessitamos também, entre outras coisas, de garantir cadeias de valor justas e equilibradas, como na exploração do cobalto (um mineral crítico para a transição energética), onde a exploração atual no Congo coloca em causa ambiente e pessoas.
Analisar a desproporcionalidade entre quem contribui para e quem sofre com a crise ambiental não é apenas um imperativo moral ou de urgência da ação. É mote para compensar de modo justo quem promove a transformação, responsabilizar quem coloca em causa a sustentabilidade e tratar de forma honesta quem, no curto prazo, ganha e perde.
A transformação para uma economia sustentável, mesmo com benefícios inquestionáveis a longo prazo, deve garantir viabilidade social e política. Ao mesmo tempo que existe a pressão social para a transformação, existem efeitos não negligenciáveis a que a equidade trará resposta, como a proteção de pessoas e comunidades expostas às descontinuidades do status quo ou a perceção da sociedade e a sua inclusão nos processos de decisão.
Apesar dos fatores mobilizadores como os migrantes climáticos ou alterações climáticas, a dicotomia entre resiliência social e velocidade da transformação necessita de ação.
A equidade não responde apenas à desigualdade, garante a transformação. Como Drucker defendia, as organizações públicas e privadas precisam assumir a sua responsabilidade. Precisam de perguntar o que podem fazer e trabalhar na resposta aos desafios da comunidade. Elas são a comunidade.
Precisamos, à semelhança do UNRISD, de mobilizar recursos para garantir um caminho para a sustentabilidade com equidade, tornando a transformação efetiva, ética e duradoura.