O reitor da Universidade do Porto, noticia-se, comprometeu-se a suspender imediatamente projectos com potencial uso militar, se existirem, em que participem instituições israelitas, designadamente universidades. O compromisso foi assumido, prossegue a notícia, perante «emissários [nota bene] do coletivo de estudantes em defesa da Palestina que lhe entregaram uma carta aberta a exigir o fim das parcerias com universidades israelitas». Mas o reitor afirmou acreditar que não existem tais projectos. Entende até, segundo fontes da Universidade, que «a educação, o ensino e a cooperação internacional são armas mais eficazes na luta pela paz do que o corte de relações com instituições que não estão diretamente relacionadas com o governo».  Depreende-se das suas declarações que, apesar de relutante quanto à eficácia da suspensão dos projectos e até quanto à existência desses mesmos projectos, o reitor comunga das intenções que subjazem às exigências dos estudantes: cortar com a ciência israelita que está a ser conivente com o genocídio, nas palavras do estudante Vasco da Silva.

Pela sua posição, o magnífico reitor ratifica a classificação do conflito no Médio Oriente como genocídio e, em nome dessa classificação, determina-se a agir. O argumento tácito é moral: a Universidade não contribui para genocídios. Em coerência, o reitor deveria alargar a suspensão de todos os projectos com potencial uso militar. O mínimo exigido seria fazer o levantamento de todos os projectos e averiguar o grau de implicação que possam ter em todos os eventuais genocídios e, seguidamente, actuar em conformidade. Não o fazendo, o reitor introduz uma discriminação objectiva entre aquilo que considera genocídios, agindo contra uns e não contra outros, caso em que deve explicitar os motivos do tratamento desigual, ou então, no entender do reitor, apenas o conflito entre o Hamas e Israel configura um genocídio, nesse caso está também obrigado a apresentar as razões que fundamentam essa posição. O reitor não fez uma coisa nem outra. Nem o fará. Percebe-se facilmente porquê. O reitor dançou conforme a música que lhe tocaram, e deu uma resposta de circunstância, na esperança de calar os «emissários» do dito colectivo. Fingiu que iria mudar tudo para que tudo ficasse na mesma. Julgou livrar-se de um problema; passada a febre, terá pensado, os Don Juan das causas virar-se-ão para outro lado e a voragem das notícias vai ganhar a vida para outras paragens. O estudante citado, no entanto, crê que a «Universidade do Porto deu um exemplo ao país e ao mundo». Também aqui está equivocado.  Na pessoa do seu reitor, deu um exemplo de dissimulação, pusilanimidade e, no fundo, de cobardia. E ao fazê-lo fez mais. Capitulou publicamente diante do mais canhestro anti-semitismo. Foi esse o seu exemplo.

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