A violência económica e financeira é uma realidade presente em Portugal e em muitos países ao redor do mundo. Manifesta-se de diversas formas, mas uma das mais prejudiciais para as pessoas é a perda de investimentos devido à falta de literacia financeira e insuficiência de mecanismos governamentais para regular as entidades financeiras – digitais ou tradicionais.

A dor de perder dinheiro é real e tangível. Tanto é assim que um estudo realizado pelo psicólogo e economista Daniel Kahneman e pelo seu colaborador Amos Tversky, mostrou que a dor de perder dinheiro é equivalente à dor física. Este tipo de dor pode ser especialmente intenso quando a pessoa em questão não entende completamente os riscos envolvidos num investimento ou não tem conhecimento suficiente para avaliar as informações disponíveis.

No entanto, no século XXI, é importante lembrar que já não é suficiente ser-se provido de literacia financeira, mas também literacia digital. Com a crescente digitalização de serviços financeiros, as pessoas têm de entender como navegar em aplicações, sites e plataformas, sabendo avaliar a segurança de transações online e sabendo entender os riscos associados à partilha de informações pessoais. Sem literacia digital e sem literacia financeira o analfabetismo da era digital poderá proliferar.

Infelizmente, muitas pessoas não têm acesso a essas informações e serviços, o que significa que estão em maior risco de puderem vir a ser vítimas de violência económico e financeira. Além disso, temos assistido a governanças selvagens de entidades financeiras tradicionais e ligeireza de procedimentos associadas a serviços financeiros digitais. Por outro lado, os governos não têm os mecanismos necessários para regular as suas atividades porque não se importam com o tema ou porque não têm tido a capacidade de observar as dinâmicas tecnológicas e a evolução social.

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É por isso que é importante que os governos atuem para regular as entidades financeiras e garantam que os consumidores sejam protegidos contra práticas predatórias. É necessário investir em programas de educação financeira e digital para ajudar as pessoas a entender melhor como criar os seus negócios e como proteger o seu dinheiro e os seus investimentos.

Em última análise, a violência económica e financeira é uma ameaça real para a segurança das pessoas. A dor de perder dinheiro é real e pode ser devastadora para aqueles que não estão preparados. É responsabilidade dos governos, das entidades financeiras, dos agentes da justiça e, até, de qualquer um de nós garantir que a literacia financeira e digital seja uma prioridade nas nossas vidas e nas nossas comunidades.

Não podemos terminar sem lançar um desafio aos tribunais e aos agentes da justiça, fazendo as seguintes questões: tem sido discutido este tema? Os juízes, os procuradores e os advogados têm pensado na forma como a dignidade humana é colocada em causa, sempre que as vítimas de criminalidade económica e financeira recorrem à justiça? São ouvidas as suas vozes? Quais são os mecanismos indemnizatórios e de mensuração da dor disponíveis em Portugal?

Afinal, a educação financeira poderá ser encarda como um investimento. Um investimento que pode gerar retornos significativos para o nosso futuro financeiro e para o bem-estar geral da sociedade – para não falar do sinal evolutivo que um país pode dar, respeitando, desta forma, os seus cidadãos.