Podem vandalizar as estátuas de Churchill acusando-o de racismo e imperialismo. Mas nunca poderão negar que se não fosse pelo mesmo, hoje seríamos todos racistas e anti-democráticos frenéticos.
Podem vandalizar as estátuas e os memoriais de Lincoln e de Gandhi. Mas nunca poderão ocultar o seu contributo para uma maior consciência de tolerância.
A HBO pode retirar “Gone With the Wind” do seu serviço streaming por conter “pressupostos racistas”, no entanto foi o primeiro filme a atribuir um Óscar a uma actriz negra, Hattie McDaniel.
O corpo estudantil da Universidade da Virgínia quer retirar as referências ao seu fundador, o Presidente Thomas Jefferson, por ter possuído escravos na sua propriedade em Montincello. No entanto foi a obra do homem que criou os pressupostos constitucionais que fundamentaram a luta pela igualdade racial em democracia. Já para não perguntar: e o que fizerem estes estudantes indignados pelo sistema educativo norte-americano quando comparados com Jefferson que lhes deu a própria universidade?
Movimentos da cultura de ressentimento estão a propor a destruição de estátuas e memoriais dos europeus colonizadores sem considerarem todos os contributos tecnológicos e filosóficos que trouxeram do Velho para o Novo Mundo.
Proíbem a leitura de Aristóteles das universidades, por este ser demasiado machista e misógino para os padrões actuais. Enfim…
O que andamos a testemunhar quando vemos as notícias não é activismo, pelo menos na concepção normal, é ignorância ao mais alto nível. É ingratidão, é crime e é ressentimento. O que testemunhamos também, é o nascimento de forças criminosas que se aproveitam de nobres causas para levar a cabo os seus objectivos marcados pela intolerância. O verdadeiro activismo para ser benéfico e enriquecedor, pressupõe uma natureza pacífica, e que esteja dotado de cultura, estudo e seriedade intelectual.
Por mais que o vandalismo e a censura se façam sentir, a memória e a herança dos nossos ancestrais e dos construtores da nossa civilização nunca poderá ser apagada.
Julgarmo-nos no pico da História foi sempre o grande erro de todos os iluminados. Iluminados estes que ao patrocinarem um revisionismo histórico, criaram uma narrativa convincente e inspiradora, baseada no ressentimento alheio, fundamentando as piores práticas totalitárias. Práticas estas que não deixam espaço para a compreensão dos tons de cinzento de todos aqueles que nos antecederam. No entender de quem participa nestes protestos violentos chegámos ao pico da História e da compreensão histórica, portanto há que a rescrever de modo a servir os seus propósitos opressivos. Porquê? “Porque somos os melhores! E estamos a fazer mais pelos oprimidos do que qualquer outro que o diga ter feito, mesmo quando grafito esta estátua e desejo a morte de polícias.”
As novas narrativas históricas foram sempre construídas explorando o ressentimento das massas como um recurso ilimitado. O ressentimento, como prova a história contemporânea esteve sempre na génese dos regimes totalitários opressivos. A criação de narrativas sufocantes que não têm em consideração o tom de cinzento do Ser-Humano já não precisam do veículo de um estado central ou de políticos carismáticos para levar os seus propósitos avante. Apenas precisam de uns quantos intelectuais pós-modernistas messiânicos plantados na academia, “likes”, partilhas, e uns quantos seres berrantes que adquirem tempo de antena. Precisa de entrincheiramento digital e de vandalismo real. Em nome da sociedade aberta, esta gente tem que ser combatida no jogo democrático.
Chegámos à idade do totalitarismo da pressão social, que está a ganhar proporções assustadoramente banais. No dia em que confiarmos aos adeptos das ideologias de ressentimento poder de decisão, estaremos a destruir o contracto entre nós os mortos e os que estão por nascer. Destruindo o bom, o belo e o verdadeiro.