Já foi há mais de uma semana que Francisco Rodrigues dos Santos foi eleito presidente do CDS. Apesar do curto tempo em que se encontra à frente do partido, a sua direcção encontrou-se debaixo de fogo por motivos que me fazem duvidar da imparcialidade de uma boa franja dos órgãos de comunicação social.

Francisco Rodrigues dos Santos, ex-líder da Juventude Popular, apresentou ao 28º Congresso do CDS em Aveiro, uma moção de estratégia global intitulada Voltar a Acreditar, moção esta que nos dá um primeiro vislumbre sobre o seu projecto para o partido e para o país. Se lermos a moção com o devido cuidado encontraremos uma série de propostas, sobretudo focadas na valorização da família, enquanto célula nuclear da nossa sociedade (mal seria se assim não fosse num partido que se considera democrata-cristão). São várias as propostas relacionados com a família. Desde a redução da carga fiscal para as famílias numerosas, a políticas que permitem uma maior liberdade de escolha de educação.

O mesmo acontece com o mundo rural. A linha programática que Francisco Rodrigues dos Santos oferece para o partido, é que o CDS reencontre essa sua vocação rural que o liga àqueles que sempre se consideraram verdadeiros ambientalistas, os agricultores. O título de partido da lavoura caiu por terra.

No entanto vários sectores da sociedade civil, preferiram colar a nova direcção do partido a uma emergência da direita mais radical e ultra-conservadora na Europa e no Mundo. Não ouvimos ou lemos nada a criticar as linhas mestras do manifesto que o FRS apresentou ao país. Ao invés disso, Rodrigues dos Santos e a sua nova direcção foram apresentados aos cidadãos deste país, como um movimento de ruptura interna que eventualmente minaria a identidade do partido, por possuir membros da ala mais conservadora. Como se que ao derrubar o status quo os malucos estivessem a tomar conta do manicómio. Não deixa de ser curioso que houvesse muita gente surpreendida, por haver conservadores num partido em que um dos seus três pilares fundamentais é o conservadorismo (ao lado da democracia-cristã e do liberalismo).

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O mesmo acontece com a questão do aborto. Não pude deixar de sentir uma certa surpresa, quando descobri que havia gente chocada com a posição do novo líder do CDS em relação à interrupção voluntária da gravidez. É contra! Quem diria?! Num partido que sempre se assumiu pró-vida e personalista cristão. O CDS lutou pela vida, quer em 1998 e em 2007, a primeira vez liderado por Paulo Portas, que não é recordado como o líder mais conservador que o CDS já teve, a segunda por Ribeiro e Castro. Ainda assim essa sempre foi a posição do partido. Uma posição que encorajou Assunção Cristas a militar nas fileiras CDS. No entanto a surpresa parece ter chegado em 2020. Talvez as pessoas andassem desatentas. Idem aspas em relação à eutanásia.

O escrutínio público da actual direcção do CDS ficou marcado pelo foco em declarações infelizes do vogal da comissão política nacional, Abel Matos Santos, proferidas nas redes sociais há quase dez anos. Falou-se em paridade das mulheres nos novos altos quadros do partido, mas mais uma vez revelou-se tudo muito surpreendido, por isso acontecer num partido que em defesa da meritocracia, nunca defendeu quotas de género ou raciais. Tudo isto chegou a um ponto em que o CDS foi quase identificado como uma força da extrema-direita, roçando espíritos totalitários anti-semitas (escusado será mencionar o triste episódio do jornal Público). É preciso salientar que o CDS sempre foi um partido amigo da causa israelita.

No fundo a futilidade da discussão rende mais que uma discussão séria em si.

A nível interno alguns sectores o acusaram de desunião e de oportunismo. Contudo foi FRS que incentivou Cecília Meireles a continuar como deputada e líder do grupo parlamentar, com vista a que o bom trabalho no parlamento continuasse, fomentando a união do partido na sua relação com o grupo parlamentar, e ao mesmo tempo fazendo da rua o seu local de acção política, enquanto reorganiza um partido fracturado, com estruturas que ficaram débeis. Mas nunca se ouviu da sua parte uma crítica á direcção anterior, desde que é presidente.

No fundo o Francisco representa o que o CDS sempre foi – um partido de ideias personalistas, conservador nos costumes, liberal na economia, moderno na forma de comunicar e que apresenta um caderno de encargos que prova a sua capacidade para governar Portugal.

Passou pouco mais que uma semana, e FRS terá que continuar a mostrar cartas e a provar-se de valor aos olhos dos portugueses se quer fazer do CDS  a grande força da direita em Portugal. O trabalho não é fácil tendo em conta os pobres resultados eleitorais, o estado financeiro do partido, o crescimento de novos actores políticos à direita e a hostilidade de uma parte da comunicação-social.

Uma coisa é certa – mar calmo nunca fez bom marinheiro.