Vejo com frequência as pessoas sentenciarem, com grande superficialidade, sobre o grave problema da pandemia em que estamos mergulhados. É um problema grave, complexo, seguramente de ordem médica mas, também, de ordem sanitária, social, económica, financeira e política. Há muito para analisar, investigar, registar, ganhar experiência e tirar ilações.
Não quero ser pessimista, nem sou daqueles que perante um qualquer cataclismo dizem que “nos meus X anos (geralmente muitos) nunca vi nada assim”. A verdade, permito-me presumir, é que, ao longo da História da Humanidade, nunca houve situação idêntica. E não me estou a esquecer, entre outras, das terríveis epidemias da cólera e da peste que tanto afetaram as populações mundiais e tantas marcas deixaram na Europa.
Eram, no entanto, épocas diferentes. As educações eram espartanas, a capacidade individual e coletiva para suportar situações adversas e contingentes era muito maior, havia mais sentido da transcendência e tudo isto conduzia a uma mais fácil aceitação das medidas sanitárias então tomadas e uma mais fácil resignação perante as circunstâncias insuperáveis.
Hoje o mundo está diferente. O hedonismo dominante recusa o sofrimento e como não o aceita absolutamente mas ele está presente, nega-o, em auto convencimento de que não existe. Um típico raciocínio da avestruz que enterra a cabeça na areia quando vê o caçador.
E nessa negação compulsiva, a pessoa emite juízos do que não sabe nem estuda, gerando-se assim atitudes de indisciplina pessoal e coletiva apenas para satisfazer o que apetece em detrimento do que deve ser feito. No entanto, alguns mal ouvem dizer que o número de casos aumentou, ou que apareceram numa região onde se imaginavam seguros ou, ainda, que foi atingido um familiar ou amigo mais próximo, ficam dominados pelo pânico e falam e agitam-se na esperança de, com isso, estar a afastar o ladrão, neste caso o vírus.
Infrutífero e inglório.
É, pois, uma realidade que para o bem coletivo deve ser corrigida.
Dizia Ortega Y Gasset que “yo soy yo y mi circunstancia”. Se as circunstâncias são difíceis, há que ser forte e determinado para as ultrapassar, pois como diz o adágio popular: “A vida é dura para quem é mole”.
Com a determinação de não desistir nem afrouxar havemos de vencer.
A sequência da estratégia deve ser: ciência para análise e interpretação dos fenómenos, legislação para a aplicação prática na sociedade dos dados que a ciência vai adquirindo e determinação política para encontrar os meios adequados para os fazer cumprir.
A vida tem de ser vivida, sem dúvida, mas não podemos permitir que o vírus se ria de nós. E para isso há que usar, com inteligência e determinação, as armas da profilaxia que, na ausência da cura, a Ciência, em cada momento, nos vai proporcionando.