Qualquer pessoa que trabalhe na área comercial do sector bancário e que lide diariamente com as questões financeiras dos cidadãos, há meses que vem sendo confrontado com as preocupações e medos de quem por via do aumento brutal das taxas de juros vê agora em risco a capacidade de suportar o teto onde se abriga.
Para responder a uma inflação galopante, o Banco Central Europeu, já depois de o seu congénere norte americano o ter feito em devido tempo, tomou a opção que os livros de macroeconomia mandam tomar, ou seja, o aumento das taxas de juro, de forma a reduzir a massa monetária em circulação, o que conduz a uma redução da atividade económica e consequentemente a uma estabilização e redução generalizada dos preços.
Sendo Portugal um país onde o mercado de arrendamento é há décadas praticamente inexistente, quem não tem a felicidade por via dos pais de ter uma casa onde habitar, é, regra geral, “forçado” a recorrer ao crédito bancário. Atendendo à realidade económica portuguesa, caracterizada por baixos rendimentos, a esmagadora maioria dos compradores de habitação própria e permanente, arriscaria aqui números muito próximos aos 100%, optou por créditos com taxa variável, indexada à Euribor, não porque não existissem propostas de taxa fixa, mas porque estas últimas, já antevendo necessárias subidas futuras, eram mais altas, resultando também, logicamente, em prestações mais elevadas. Todos, entre clientes e bancos, sabiam que mais tarde ou mais cedo os cenários de taxas negativas iriam inverter-se, poucos arriscariam que aconteceria tão intensa e rapidamente.
Este é o contexto que nos trouxe até aqui, com milhares e milhares de famílias sufocadas por prestações cada vez mais altas, com uma crise no mercado de habitação sem fim à vista e com um pacote de medidas governamentais (Programa Mais Habitação) que, arrisco, induzirá a uma ainda maior pressão em sentido oposto ao pretendido.
A extraordinária máquina de propaganda do Partido Socialista rapidamente identificou o problema e como habitual tratou de lançar medidas que surgiram como a resposta ao problema social que nos assola. Entre essas medidas está a emblemática bonificação de juros do crédito habitação, a qual despertou grande interesse e esperança junto dos cidadãos que viam nesta medida a tábua de salvação para a complexa situação onde estão inseridos.
Para permitir aos seus clientes aceder a esta medida, a banca teve de rapidamente montar uma forma de registo que se revelou (como habitual) bastante burocrática, estando nestes últimos dias e semanas a surgir os primeiros resultados dos apoios disponibilizados.
Esta semana tive eu próprio conhecimento de um casal com dois filhos menores que adquiriu a sua habitação há cerca de 4 anos e que tem em dívida, a esta data, aproximadamente 100.000€, paga na sua prestação mensal uma componente de juros de perto de 300€ e recebeu este mês a primeira bonificação, foram contemplados com uns estonteantes 87 cêntimos que irão, certamente, salvar o seu mundo.