Nos séculos XIX e XX, a via do capitalismo derrotou a via comunista/marxista. Esta vitória permitiu, de forma inequívoca, atingir um nível de crescimento económico que retirou da pobreza milhões de pessoas que de outra forma nunca o conseguiriam fazer. Também o capitalismo criou o contexto necessário para que se desse um salto inigualável em termos de desenvolvimento científico e tecnológico, não só ao providenciar o capital necessário para a investigação e inovação, mas também ao dar a iniciativa (capitalista) da procura de novos produtos/conhecimento com vista ao lucro.

Não tenhamos, no entanto, a pretensão de que o sistema capitalista é perfeito e impoluto. Tal como Winston Churchill referiu, em discurso na Câmara dos Comuns, em 11 de novembro de 1947, “A democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas os outras já experimentadas ao longo da história.” Podemos aplicar o mesmo principio ao capitalismo.

Nos casos em que não existam Estados devidamente eficientes e fortes (saliento que a definição de forte é claramente diferente da definição de vasto ou pesado), surgirão subversões de mercado que a prazo colocarão todo o sistema em crise, como por diversas vezes na história já se comprovou, daí a importância da eficiência do Estado.

Como evolução do modelo capitalista, surgiu a globalização que, também ela, vive numa dicotomia entre vantagens e desvantagens, com clara prevalência do factor positivo, mas em que os aspectos negativos não são negligenciáveis. Se por um lado a globalização permitiu encher o mercado de todo o tipo de produtos a custos mais reduzidos, universalizando o acesso a bens que antes tinham esse acesso limitado, por outro, incentivou a deslocalização de empresas para áreas onde os custos do factor trabalho eram mais reduzidos, originando assim uma quebra acentuada da oferta de emprego em áreas menos qualificadas e, consequentemente, conduzindo a um excesso de mão de obra disponível face à oferta existente e, em sequência, a uma redução de salários e aumento de precariedade. Esta precariedade e redução de capacidade financeira afecta predominantemente as classes média e baixa. Atendendo ao longo período de prevalência desta crise sem solução à vista nas democracias ocidentais, leva à emergência de um sentimento de saturação com as tradicionais forças políticas, empurrando as populações, especialmente as menos letradas, para os braços de forças populistas e totalitárias de ambos os extremos políticos, que se apresentam mais vocais e com soluções de carácter simplista, embora irrealizáveis.

Esta deriva extremista, pelo seu carácter reivindicativo e/ou revolucionário é caracterizada por um discurso agressivo e muitas vezes acusatório, resultando numa polarização entre os extremos com claro desgaste do centro político e moderado. Com o desgaste dos moderados, surge uma incapacidade comunicativa que leva a prazo ao encerramento de qualquer capacidade de diálogo, restando apenas a via do conflito para a qual basta apenas uma faísca que acenda o rastilho da violência. Por outro lado, com ou sem violência, coloca-se o risco de, com o dealbar do extremismo, ascendam ao poder forças totalitárias que colocam obviamente em causa os regimes democráticos que hoje damos por garantidos. O mundo como o conhecemos está, na verdade, preso por arames, e se ninguém se levantar para defender a democracia, fenómenos como os que aconteceram nos períodos pré e pós I Guerra Mundial podem voltar a acontecer. Os populismos e os totalitarismos têm campo aberto para crescer utilizando como combustível o descontentamento daqueles que se sentem abandonados pelo poder político ao qual dão o nome de “sistema”. Não há, e muito menos cuido ter, uma solução simples para este problema, no entanto, acredito que um caminho será imprescindível na manutenção das democracias liberais, e passa invariavelmente pela assertividade e combatividade dos moderados na mesma proporção dos populistas. Se estes últimos apresentam um discurso que entra facilmente e de forma simplista nos ouvidos dos espoliados da vida, a verdade é que a sua narrativa assenta em pés de barro. Não podemos, portanto, pensar que estes fenómenos se extinguirão naturalmente por si, tal não irá acontecer. Estarão sempre à espreita de uma oportunidade para ferir um sistema que odeiam, assim o combate político moderado não deve sofrer de tibiezas ou cedências aos extremos, sejam eles de esquerda ou de direita, comunistas ou fascistas. Devem os moderados não ter medo de afirmar as suas convicções, sejam elas mais à esquerda ou mais à direita, porque só assim, em dialogo entre si, contemplando diferentes pontos de vista, poderão vencer o combate pela liberdade.

Eu liberal me confesso, e por isso, na defesa da liberdade, um radical moderado me vejo.

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