Em geral, como se tem visto nos últimos anos, quem “contesta” a autoridade chinesa, sujeita-se às consequências, mas o contrário também é verdade, quem não protesta, pode sair beneficiado, com a nova China a desmentir o velho ditado que assegura que “quem não chora não mama

Por estes dias, assiste-se a mais uma possibilidade de Macau continuar a evidenciar-se à escala mundial cavalgando rumo à consolidação de um território ostentador, megalómano, rico e atrativo a todos, ou a quase todos, os níveis. A RAEM (Região Administrativa Especial de Macau), esteve, como todos recordam, sob alçada portuguesa até 1999, altura em que se verificou a sua mudança para o controlo da China, mantendo-se porém, uma forte presença lusa, seja a nível da população, nos nomes das ruas e sobretudo, no facto do português permanecer como uma das suas línguas oficiais, a par do cantonês.

Esta Região, fruto do colossal investimento nos casinos, assumiu um papel de destaque à escala mundial neste sector, superando largamente a faturação de Las Vegas (que passou a deter o estatuto de ex-capital mundial do jogo) o que levou ao contínuo fenómeno de imigração por parte dos portugueses, mas também de muitas outras nacionalidades, tais como australianos, brasileiros, americanos, etc

Desta forma, Macau fez jus à sua índole, na medida em que captou para o território, indivíduos de todas as nacionalidades para todas as áreas, do Direito à Medicina, Arquitetura, Aviação e por aí adiante, mantendo desse modo, a sua génese de território vocacionado para uma globalidade mundial, uma terra diferenciada dos restantes territórios chineses, com a óbvia excepção de Hong Kong.

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Contudo, Hong Kong apresenta-se agora, como o derradeiro exemplo do expoente máximo que Macau poderia almejar, fruto das manifestações que têm ocorrido por aquele território, motivadas pela discórdia com a política chinesa, em particular, pelo projeto de lei que permitirá a extradição para a China continental, de cidadãos que cometessem certo tipo de atos ilícitos. Ora, a ideia que tem sido difundida por determinados sectores é que, na realidade, este projeto de lei visava fundamentalmente silenciar os críticos ao Regime Chinês e permitir a este, tomar já, o controlo de Hong Kong (que a par de Macau é também uma Região Administrativa Especial), antecipando assim a tomada definitiva destes territórios, acordada para 2049.

Paradoxalmente, esta “desobediência” da antiga colónia inglesa, por oposição à “obediência” da antiga colónia portuguesa, resultou num reconhecimento pelo regime chinês ao “bom comportamento” do território de Macau, na medida em que o presidente Xi Jinping, decidiu avançar para a criação de uma bolsa de valores mobiliários em Macau, conferindo maior importância económica a este território, tornando Macau de certa forma na substituta de Hong Kong, nas relações com empresas estrangeiras e desse modo, deixa uma forte alfinetada a Hong Kong, que até à data, gozava unilateralmente deste estatuto de centro financeiro na região.

O projeto, que já se encontra em andamento, irá permitir que Macau se assuma cada vez mais, como um verdadeiro território de todas as oportunidades, uma vez consumada esta ideia, aumentará o seu fulgor económico, abrindo mais canais de investimento e, certamente, irá continuar a importar mão de obra por esse mundo fora, especialmente de Portugal, desde logo porque, parte do investimento que se visa alcançar é oriundo precisamente dos países de língua oficial portuguesa, consolidando os laços históricos que existem entre Macau e a herança lusitana materializados numa ligação que parece jamais poder ser quebrada.

Fica assim a dúvida, será que a maneira de conseguir benefícios do regime chinês é sendo obediente? Ou será que Hong Kong fruto da sua posição conseguirá almejar algo que Macau já há muito desistiu, a sua independência e autonomia? E será que é isso que os cidadãos do território desejam, ou preferem uma sociedade que, embora dependente política e economicamente do regime chinês, lhes assegura um bem estar muito superior ao do restante território da China Continental?