Os prelados lusitanos, reunidos em Fátima em Assembleia plenária, reelegeram a “cúpula” da Conferência Episcopal Portuguesa, CEP. Como declaração de interesses, adianto-me a afirmar que quem disser que a maioria dos bispos portugueses não é conservador só o pode fazer de má-fé. Eu próprio cheguei, nesta mesma coluna de opinião, a associar o reeleito presidente da CEP ao progressismo revolucionário, como se de um pai do PREC na Igreja Católica portuguesa se tratasse. Aparentemente enganei-me e na CEP nada há de revolucionário, nada há de novo. Como hoje escutei, “tudo como dantes no quartel de Abrantes!”
Tenho para comigo que os bispos decidiram conservar a honrosa e popular tradição portuguesa de, independentemente da maneira como tenha corrido o anterior mandato lá na terra, reeleger o “Presidente da Junta”.
Se é assim na Junta, se é assim na Câmara, se é assim no Governo e na Presidência, se sempre assim se fez na CEP, porque haveria agora de ser diferente?
Bem, um ou outro protagonista talvez nos ajude a responder.
Uma pesquisa rápida na internet leva-nos a encontrar os “lamentos” e a “tristeza” de Dom José Ornelas no final do seu primeiro mandato. Fala da sua “desilusão” por “não ter conseguido passar bem a mensagem” no caso dos Abusos e do seu alegado veredito sobre o final do seu mandato na CEP: o Bispo de Leiria-Fátima já havia feito saber “que não se sente em condições para continuar a liderar a Conferência Episcopal.”
O reeleito vice-presidente, Dom Virgílio Antunes, parecia já intuir na Vigila Pascal deste ano a continuidade da missão oblativa e quase cruenta, pelo menos para quem assiste a tudo isto, de continuar a ajudar a guiar os caminhos da CEP. Dizia o bispo: “Se havemos de reconhecer que frequentemente nos temos demitido da missão voltada para fora ou se nos têm empurrado para as margens da sociedade, assumimos o compromisso de estar presentes, mesmo que isso nos cause dissabores, mesmo que não sejamos compreendidos ou amados.”
Também o Arcebispo de Braga, reeleito para a Comissão da Liturgia, lembrava na Missa Crismal deste ano que “o teólogo Johann Baptist Metz, pai da teologia política que emerge do Concílio Vaticano II, referia que a Igreja antes de ser crítica da sociedade, precisa de fazer uma ‘auto-crítica’ a si própria, pois é na medida em que ela faz uma crítica interna que lhe advém toda a autoridade profética para ser uma voz crítica da própria sociedade.”
Se Dom Ornelas humildemente reconhecia a culpa da falta de preparação para lidar com um dos momentos mais duros da Igreja deste tempo, se Dom Virgílio reconhecia a falta de sentido de compromisso com a missão voltada para os de fora e se Dom Cordeiro profetizava um necessário tempo de autocrítica para a Igreja, nesta eleição “algo de errado não está certo”.
Custa-me dizer isto assim, pois parece que estou sempre a “bater no ceguinho”, mas será que sou só eu que acho que esta eleição foi uma completa surpresa? Será que não passou pela ideia dos votantes que depois dos últimos meses o Povo de Deus queria renovação? Será que não há coragem de assumir os erros de base deste mandato, nomeadamente a má condução e tão contestada redação do relatório sinodal e a péssima abordagem ao final do processo dos trabalhos da Comissão independente? Será que não há humildade suficiente para discernir sobre quem possam ser os prelados que tenham até agora provas dadas de pelo menos não tropeçar em todos os buracos por onde passam?
Eu tenho para mim que ainda vamos ouvir, nós leigos não, mas os senhores bispos votantes, Dom Ornelas a parafrasear António Costa e a dizer “aguentem-se” ou então o tão conhecido “habituem-se”! Tenho para mim que teremos três anos de coisa igual ou mesmo de coisa nenhuma, sendo a última o mal menor, pois igual ao mandato anterior livrai-nos Senhor!
Dá-me a sensação de que estão a brincar connosco, como se depois desta eleição ninguém percebesse o “truque” político de que, diante de uma mudança, não se assumisse a necessidade da mesma, pelos decadentes meses últimos.
Dom José Ornelas faz-me mesmo lembrar António Costa que diz sempre não estar agarrado ao poder, mas sabe bem que pode usar abundantemente de humildade pois dificilmente há alguém o substitua.
Dom Virgílio não me faz lembrar ninguém que não ele próprio. Não se compromete, não sabemos bem o que pensa sobre as alterações climáticas e a extinção dos ursos polares e muito menos sobre o que faria se liderasse de forma plena os destinos da CEP.
Dom José Cordeiro está em Braga, e do Primaz das Espanhas dita o bom senso que nenhum comentário se teça, pois, teremos sete anos de azar, pior que partir um espelho.
Enfim, o meu pai quando comecei a votar, ironicamente dizia-me que era importante as pessoas fazerem um segundo mandato, pois o primeiro era mais para perceberem como funcionavam as coisas. Agora que já perceberam como se fazem as coisas podemos estar descansados, até porque a renovação eclesial é a palavra de ordem desta nova Comissão Permanente e a prova disso mesmo é terem reconduzido o porta-voz da CEP, homem de palavras fáceis e ideias claras, ainda que nem o próprio diabo saiba onde Manuel Barbosa terá feito o curso de comunicação e imagem!