Com a ascensão evidente da extrema-direita na Europa, as próximas eleições prometem reforçar ainda mais essa tendência. Entre 6 e 9 de junho, os cidadãos irão às urnas e tudo nos aponta para um aumento significativo do número de deputados do ID, que inclui partidos como o Alternative für Deutschland, o Rassemblement National e o Chega. Até aqui nada de novo. Mas como estão os laços entre os grupos europeus mais à direita na Europa? Conseguirá o ID conciliar-se com o ECR do Fratelli d’Italia ou do Vox? Mas antes disso, conseguirá o primeiro garantir o diálogo construtivo entre si?
Com as eleições europeias a aproximarem-se, todos os grupos presentes no Parlamento Europeu publicaram os seus respetivos manifestos, referindo as suas propostas para o mercado de trabalho, saúde, habitação, juventude, política externa, imigração, etc.
No entanto, estaria a mentir se concluísse desta forma o raciocínio. Isto porque, claro está, houve um grupo que não o fez. A justificação é dada por um dos vice-presidentes, Gunnar Beck (líder do AfD no PE), que alega que o programa do ID já estava definido desde 2019, reiterado pela Declaração de Antuérpia (2022), um pequeno texto que aborda as questões mais centrais do grupo de forma superficial, podendo ser resumido com “Europa para os europeus” e “cooperação na União Europeia, mas não assim tanta”.
Desta forma, é difícil acreditar que isto venha de quem quer ter um papel crucial na tomada das decisões que tanto impactam os Estados-Membros deste bloco supranacional. A razão para a ausência de um novo manifesto? Os desentendimentos entre Marine Le Pen e o AfD, que são bem conhecidos após a revelação de que membros deste partido participaram num evento em Potsdam onde o assunto principal discutido foi a remigração (retorno forçado de imigrantes, e descendentes, para os países de origem, independentemente do estado de cidadania das pessoas em questão). Como candidata à presidência francesa, é lógico que não lhe convém ficar associada a uma medida deste radicalismo, principalmente tendo em conta a variedade étnico-racial francesa. Esta situação é demonstrativa da falta de unidade, algo que por si só não é necessariamente condenável, embora o passe a ser quando conduz à não tomada de decisões em momentos críticos e decisivos para a Europa.
Mas não é só no ID que ninguém se entende. Pelo que parece, também no ECR os partidos discordam na delineação de linhas vermelhas ao extremismo. Neste caso, a entrada do Fidesz de Viktor Orbán está longe de ser consensual. O partido que abandonou o EPP em 2021 e agora deseja juntar-se ao grupo “radical, mas não tão radical”, enfrenta uma receção unida pela discordância. Giorgia Meloni está pronta para abrir os braços e acolher o Fidesz, com o ex-primeiro-ministro polaco a aplaudir ao fundo. No entanto, quatro partidos do grupo torcem o nariz à ideia, e dois deles até ameaçam bater a porta e sair, indignados com a postura de Orbán em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia. A eventual adesão do Fidesz aparenta trazer com ela mais um drama no seio da extrema-direita europeia.
Além das divisões internas, as tensões entre Le Pen (ID) e Meloni (ECR) também se destacam. Um ponto de desacordo significativo é o grau de integração da União Europeia, com a primeira a tecer várias críticas ao intervencionismo dos órgãos de soberania da comunidade, bem como acusações constantes à Presidente da Comissão Europeia. A Primeira-Ministra de Itália é apontada como apoiante de Von der Leyen, uma parceria que surge da necessidade da primeira marcar a sua posição anti-imigração junto do poder executivo, e da segunda garantir a sua reeleição e evitar que os europeus recorram a partidos do ID para ver satisfeitas as suas posições migratórias.
Enquanto a extrema-direita se prepara para ganhar terreno nas próximas eleições, as divisões internas e os conflitos de interesses entre os grupos sugerem que a verdadeira batalha será manter a coesão. Se estes pretendem moldar o futuro da Europa e preservar o que com tanto orgulho defendem, primeiro terão de arrumar a casa e superar os seus próprios demónios. O palco está montado, mas sem unidade, o grande ato dos populistas será um fiasco monumental.