Catalina Pestana, a propósito da pedofilia existente em Portugal, falou, denunciou e escreveu de forma corajosa e arriscada sobre o que se passava na nossa sociedade, de maneira transversal, em vários sectores da sociedade portuguesa: na política, na igreja, nas sociedades secretas, na comunicação social, na diplomacia, nas instituições de ensino, etc, etc.
Tinha, para se defender, uma forma peculiar de escrever, cheia de metáforas, muito usada em tempos de ditadura… não tivesse ela sido muito amiga de Zeca Afonso e filha de um opositor “dos duros” ao regime salazarista. Os seus textos eram publicados semanalmente nos jornais e, claro está, recheados de analogias que incomodavam muita gente poderosa.
As últimas notícias sobre pedofilia lançadas pela comunicação social, a propósito dos abusos sexuais sobre crianças por parte da Igreja, levaram-me a pesquisar no Google os textos antigos escritos por Catalina Pestana enquanto era viva e, para meu espanto, as suas “escrituras” transversais à sociedade portuguesa tornaram-se invisíveis por terem sido apagadas com o lápis azul do ciberespaço.
Desta forma, após alguma reflexão, entendo e faço a minha interpretação pessoal do que o nosso bispo D. Américo Aguiar nos tentou dizer no ano passado de forma subliminar: Portugal há uns anos foi notícia mundial por ter tido inúmeros casos de pedofilia em sectores de poder ao mais alto nível e passado poucos anos tudo foi apagado e, sobre os casos dentro da Igreja, continua-se insistentemente a falar, e bem, a meu ver. Mas será que então fora da Igreja a pedofilia deixou de existir? Curioso também o levantamento deste assunto precisamente este ano, quando daqui a poucos meses teremos o Encontro Mundial da Juventude em Portugal, organizado pela Igreja Portuguesa que, com este “problema”, verá a participação dos jovens lusitanos no Encontro prejudicada.
Num país em que, até há pouco tempo, havia redes poderosas pouco vistas noutros locais do planeta, continuamos a assobiar para o lado, como canta o Carlão. Redes de pedofilia como, por exemplo no caso Maddie, em que um pedófilo alemão vivia alegremente em Portugal sem ser importunado.
Não será dever das autoridades e da comunicação social continuar a investigar a pedofilia nestes casos e noutros, além da Igreja?
As afirmações de D. Américo Aguiar e de outros responsáveis da Igreja são de pessoas que sabem mais do que dizem mas que, por serem coordenadores de uma comissão com responsabilidade, não podem ir além das “pistas” que já deram a entender que existem “fora da Igreja” e que não são da sua competência mas de alguns tribunos mediáticos com ligações políticas que as deturpam.
Não posso negar que em Portugal o povo parece não querer saber da pedofilia e que as listas que se disponibilizaram nas esquadras de polícia com nomes dos pedófilos também não são consultadas por quem tem filhos.
Mas no nosso país rapidamente vamos do 8 ao 80 e o que é facto é que atualmente nem uma voz se levanta. Será que a pedofilia, além da Igreja, subitamente desapareceu em Portugal?
A única voz que se levantou no passado, além das crianças abusadas, foi liminarmente censurada e apagada, a de Catalina Pestana. Se não acredita pesquise no Google. Com sorte os únicos textos que encontrará serão os que caluniam Catalina Pestana dizendo que esta pagou a crianças para denunciar políticos.
Curioso foi também analisar a politização que se fez das afirmações do Bispo da Igreja portuguesa com a rápida e pronta resposta de um secretário de estado do PS, agora na atualidade ministro da Educação, como que a delimitar a pedofilia à Igreja. É um caminho perigoso esta opção do Governo.
Infelizmente a pedofilia não está limitada à Igreja em Portugal. Simplesmente, falar de sectores que não têm o poder actualmente é sempre mais fácil e incomoda menos, porque Catalinas Pestanas há poucas. Pena é, o povo não está para chatices neste país pequeno, onde todos precisamos de manter o emprego e onde no poder há sempre alguém muito apressado a responder, com ataques que mais parecem defesas. Mas, como diz o Adriano, também há sempre alguém que diz não! Há sempre alguém que resiste!