Portugal é um dos países da Europa onde a taxa de desemprego mais cresceu em relação ao ano anterior. Em junho o Instituto Nacional de Estatística contabilizava mais 8% de desempregados, representando um total de cerca de 330 mil pessoas. Este crescimento, replicado inclusivamente pelo Eurostat, é público (Desemprego sobe para 6,3% em julho mas mantém-se idêntico a junho – Observador). O que os dados não indicam é quantos jovens foram empurrados para o desemprego nos últimos meses. Em contrapartida, o Governo aprova uma Agenda de Trabalho Digno e de Valorização dos Jovens no Mercado de Trabalho.

Mas vamos aos jovens: nesta primeira fase de candidaturas ao ensino superior foram colocados 49 434 alunos, num universo de 59 073 estudantes. Este número representa menos 7% que em 2022 (na primeira fase). Neste universo de alunos existe quem por via da necessidade ou da sua própria iniciativa seja trabalhador-estudante e é de louvar a capacidade de resiliência desta nova geração.

Combater a precaridade e valorizar os jovens no mercado de trabalho, são frases bonitas que os governantes não cansam de apregoar, mas entre o que se diz e o que se faz, vão grandes diferenças, sobretudo para as famílias e para os próprios estudantes.

Factos: Um jovem que seja beneficiário de abono de família e que tenha a infelicidade – pelas mais diversas razões – de não ser colocado no ensino superior público, nem ter possibilidades de frequentar uma instituição privada, o que faz? Se não estiver a estudar e mesmo que tenha 17 ou 18 anos, na imensa sabedoria da Segurança Social, se não estuda, corta-se o abono. E o agregado, muitas vezes monoparental, vê automaticamente cortadas as tarifas sociais da electricidade, água ou outros apoios que tenha (que variam de município para município) e consequentemente os estrondosos apoios de €90 e outros subsídios que o Governo vai criando para nos entreter, são cortados.

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Por outro lado, um estudante universitário que concilie os seus estudos com um trabalho tem que fazer contas à vida. Se trabalhar para ganhar “uns trocos” ou em período de férias escolares, não perde a Bolsa de Estudo à qual se candidatou mas se tiver o azar de ganhar mais que €10.540 ilíquidos num ano, acaba-se o abono e a bolsa, mesmo que esse trabalho sirva para fazer face às despesas de alojamento e alimentação. Em suma: Se és um jovem estudante ganha pouco senão o Estado corta-te “as vazas”.

Temos ainda os jovens que querem (ou precisam) muito de trabalhar. Motivados pelo sentido da causa pública, encontram um lugar no Estado, onde a priori é assegurada a magnífica carreira de (des) reconhecimento e (des) valorização por via dos recibos verdes. É que esta Agenda do Trabalho Digno não é para todos, o Governo empurra as suas ideias para o privado quando em dezenas de organismos públicos, entre os quais autarquias e juntas de freguesia, os recibos verdes são a normalidade. Em suma: se és jovem e queres trabalhar no Estado, não desanimes. Junta-te a uma equipa diversificada e espalhada pelo país com mais de 17 mil pessoas na mesma situação. De acordo com a Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, em junho de 2022, existiam 17.274 trabalhadores com “contrato de prestação de serviços”. Curiosamente, até ao momento, mais de um ano depois, não foram apresentados dados atualizados mas é expectável que o número seja semelhante, caso não tenha aumentado.

Mas se és jovem, não desistas! Se estás empenhado em concluir uma licenciatura e abraçares a nobre missão de formar, orientar e impulsionar outros jovens mais novos, podes ser professor. Terás, entre outras (como eventuais congelamentos da carreira docente), a oportunidade maravilhosa de conheceres o país de lés-a-lés. Se gostas de Turismo, o melhor mesmo é via Ministério da Educação, pois neste ano, centenas de professores foram obrigados a apresentarem-se em escolas onde não vão ficar, por imposição legal, do mesmo modo de quando eram professores contratados.

Finalmente, um jovem com maior ou menor esforço financeiro, tem uma ideia inovadora, atraí investimento, abre uma empresa. Com instalações modernas, inclusivas, contrata pessoas que por acaso até estão motivadas e que auferem mais que o salário mínimo nacional. Este jovem inicia a sua vida no mundo do empreendedorismo. E tudo corre bem até que chega um (ou mais) sindicato a afixar informação e a marcar reuniões. Sim, porque esta Agenda do Trabalho Digno permite que os Sindicatos “mesmo não tendo qualquer filiado naquela empresa”, convoque reuniões (fora e dentro do horário de trabalho), afixe informação sindical e solicite à empresa espaços para reuniões. Em suma: Tu que és jovem, conseguiste ser empreendedor, tens a tua empresa e nenhum dos teus empregados quer saber de sindicatos, mas quem decide é o Governo!

Vai se lá perceber o porque esta dita Agenda se auto-intitula “de Valorização de Jovens no Mercado de Trabalho”.