A coisa tem um nome gigantesco: Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Partos.

A coisa, ao contrário do que alguns ingénuos poderão ter pensado, não está lá para encontrar soluções para um melhor atendimento às grávidas mas sim para evitar que as grávidas procurem ser atendidas nas urgências hospitalares, excepção feita aos partos propriamente ditos, pois esses não se podem impedir.

Assim, e a fazer fé no Expresso, pretende esta comissão que as grávidas só recorram “aos especialistas hospitalares em caso de verdadeira urgência.” Ilustrar a população das grávidas ou potenciais grávidas sobre o que é ou não é uma verdadeira urgência durante a gravidez é um dos objectivos desta comissão. Por exemplo, e ainda a fazer fé no Expresso, as infeções urinárias não são uma verdadeira urgência e também não será uma verdadeira urgência uma hemorragia vaginal ligeira. Não ponho em causa a apreciação clínica sobre a não gravidade destas situações. Mas só com uma extraordinária ligeireza de espírito se pode considerar que perante uma hemorragia, por menor que ela seja, a grávida vai concluir que a hemorragia é ligeira e portanto vai tratar de ir ao respectivo centro de saúde, onde, mesmo que o atendimento fosse rápido (e muito frequentemente não é), não será necessariamente observada por um obstetra. Uma gravidez não é uma indisposição e avaliação da gravidade ou não dos sintomas é sempre condicionada pela preocupação com o bem estar do bebé.

Tem esta Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Partos consciência de que impedir as grávidas de terem acesso às urgências hospitalares no SNS é a melhor forma de empurrar ainda mais partos para o sector privado? Ou é isso precisamente que se pretende? O socialismo transformou o SNS na versão da antiga boneca envolta em plástico e guardada no cimo do guarda-vestidos: é tão bonito, tão importante e tão excepcional que não o podemos utilizar para que ele não se estrague.

Ironicamente, ao mesmo tempo que se equaciona dificultar o acesso das grávidas às urgências hospitalares, agilizam-se os procedimentos para atender quem apresenta o pedido para ser eutanasiado. Afinal, o direito à morte assistida é mais fácil de garantir que o direito à assistência na doença.

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Na ânsia de apresentar a eutanásia como um progresso, os promotores desta causa inscrevem nas suas propostas o acesso por parte dos que iniciarem o processo para a eutanásia a consultas de psicologia clínica, o direito a um médico orientador e o funcionamento de comissão de especialistas. Na prática tudo aquilo que para outros pacientes (os que querem viver) demora meses ou é mesmo inacessível, é neste caso não só assegurado como assegurado em poucos dias (e até disso possível a escolha pessoalizada de um médico). Absurdo? Sim, mas a ideologia do progressismo está transformada numa religião laica. Questioná-la tornou-se heresia. Esta semana a eutanásia vai voltar ao parlamento e provavelmente será aprovada. No final os senhores deputados regozijar-se-ão pela atribuição de mais este direito.

De repente as imagens do antigo presidente chinês Hu Jintao a ser levado contra a sua vontade da tribuna onde, ao lado de Xi Jinping, assistia ao 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês vieram lembrar-nos que o nosso futuro pode ser ainda mais complexo. Traduzindo: Xi Jinping pode fazer parecer Putin um amador.

O que aconteceu naquela sala tem várias leituras. Obviamente Xi Jinping pretende apagar o legado duma geração – a de Hu Jintao – cujos princípios de um desenvolvimento “pacífico e harmonioso” são hoje sinónimo de laxismo na China de Xi Jinping. Também é verdade que há algo de exercício de poder absoluto para o mundo ver em toda aquela cena em que o novo senhor da China assiste imperturbável, perante uma sala muda, ao espectáculo constrangedor da purga de um antigo dirigente. (Entre os espectadores mais atentos destas imagens deve estar Putin que não ignorará que o mesmo Xi Jinping o deixará cair a ele, Putin, quando tal for do seu interesse).

Certo é que aquilo a que assistimos naquela tribuna do 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês é um aviso sobre os invernos que estão para chegar e que  Hu Jintao vai passar uns tempos “adoecido”.