Embora, como qualquer outrem, possua princípios ideológicos próprios relativos ao modo como devemos encarar a sociedade, sempre vivi à margem daquilo que são as amarras políticas e partidárias que condicionam a maioria, obrigando-me a não comprometer a minha honestidade intelectual, afastando-me do fanatismo e tentando pautar a minha intervenção social pelo bom senso e sensatez, que sempre procuro aliar à prossecução do interesse público.

É neste seguimento que, apesar de me mostrar convicto que, por diversas razões – extensíveis além do próprio candidato – a solução governativa socialista se destaca da concorrente AD, não posso compactuar, ou sequer, permanecer impávido e sereno perante a postura da direção do Partido Socialista no processo de escolha de candidatos pelo círculo de Vila Real, do qual sou oriundo.

Para que melhor se contextualize, importa evidenciar que o candidato cabeça de lista da Aliança Democrática é Amílcar Castro Almeida, presidente da câmara de Valpaços eleito em 2013 com 62,49% dos votos, vencedor do segundo mandato em 2017 com 75,73% das preferências dos Valpacenses e, igualmente ganhador em 2021 com 73,84% dos votos dos seus conterrâneos, resultados expressivos aos quais se conciliam o protótipo de candidato do povo: alegre, amigo, interessado e, acima de qualquer outra coisa, presente e cumpridor. A harmonização dos supra descritos fatores fazem de Amílcar Castro Almeida o melhor candidato que a AD poderia ter no distrito ao momento e, certamente, um dos mais carismáticos e capazes quando comparado com os seus antecessores.

Diante de tal cenário, seria expectável que o Partido Socialista descobrisse dentro dos seus quadros de militância – ou até externamente – alguém capaz de igualar o espírito de batalha e reputação do candidato opositor, por forma a manter a conjetura vitoriosa que vingou no distrito no último ato eleitoral, por intermédio do qual o Partido Socialista reuniu mais 1.354 votos que seu adversário direto, correspondendo a míseros 1,28%, mas valendo a eleição de 3 mandatos em 5 possíveis no círculo Vila-realense.

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No entanto, em sentido contrário a tudo o que seria presumível e desejado, as vozes da capital impuseram-se em Trás-os-Montes decretando que o cabeça de lista para o distrito seria Álvaro Beleza, figura idónea e de incontestável curriculum, porém desprovido de qualquer ligação familiar, laboral ou social com o distrito transmontano.

Se o panorama político já se encontrava condicionado pela força e amplitude de agregação do concorrente, pior resta quando os próprios militantes e demais locais contestam as escolhas que se provam reféns da satisfação dos caprichos da capital, o que resultou na embaraçosa desistência de Beleza – que se verificou em período inferior a 24 horas após o seu anúncio – e, não obstante a já ocorrida substituição, sentenciou o ato eleitoral de março no que respeita às contas do distrito.

Ultrapassado que se encontra o erro, Pedro Nuno Santos poderá retirar deste golpe político teatral e infeliz três conclusões que, seguramente, lhe trarão nobres ensinamentos para futuro: (1) Os deputados à Assembleia da República são representantes do respetivo círculo distrital, devendo com este estabelecer uma ligação de proximidade que lhe permita proceder com afinco em prol do interesse da comunidade; (2) Por muito isolado que Vila Real se situe da alta roda política do país, nem aqui ou em qualquer outro lugar são bem acolhidos os paraquedistas, ainda que o salto seja curto – como in casu; (3) Por último – e para eternizar na memória – para cá do Marão, mandam os que cá estão.