A implementação do círculo de compensação no nosso sistema eleitoral vem sendo propagada pelos partidos com mais representação nas grandes cidades e, por sua vez, carentes de expressão em territórios do interior.

Partidos como o Livre, Iniciativa Liberal e Bloco de Esquerda perceberam que, não tendo capacidade para conseguir melhores resultados em Lisboa, Porto, Setúbal, Braga e Aveiro, muito dificilmente podem lograr mais que a atual representatividade na Assembleia de República, o que – apesar das posições políticas tão discrepantes – os faz convergir nesta ideia para o sistema eleitoral.

Proclamam os supra mencionados que este novo método torna a Assembleia da República mais fiel aos resultados eleitorais, aproveita os votos desperdiçados e promove uma maior diversidade política e uma participação mais ativa dos eleitores uma vez que permite que partidos mais pequenos obtenham representação parlamentar.

Fazendo-o de forma a que este floreado se apresente num enorme e relevante benefício para qualquer eleitor. Porém, analisada bem a questão convém sempre esclarecer que os nossos votos em contextos de eleições legislativas destinam-se a representantes dos distritos que habitamos.

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Para que o número de deputados se mantenha e, simultaneamente, se opte pelo círculo de compensação, significa que determinados círculos eleitorais – certamente os do interior – vão perder representatividade no hemiciclo parlamentar.

De que forma tal situação se poderia consubstanciar numa tão aclamada fidelidade aos resultados eleitorais se eu, por exemplo, na qualidade de eleitor pelo distrito de Vila Real visse o meu voto ser desaproveitado num representante distrital e fosse o respetivo depositado numa mescla compensatória que acabaria por eleger daqueles lisboetas (sem desprimor) que pensam que Coimbra já é norte.

Para que melhor se entenda a fragilidade desta ideia, a utilização do círculo de compensação nas pretéritas legislativas, neste espírito de contabilização de todos os votos tornariam a representação parlamentar do ADN uma realidade. Ou seja, acabaria por premiar um partido em que os eleitores votaram, na sua maioria, por engano.

Também é repetidamente defendida a ideia de que tal implementação levaria, obrigatoriamente, ao crescimento dos pequenos partidos. Afirmação que pouca dúvida transporta a respeita da sua veracidade, contudo, é transmitida como se fosse esta a grande barreira que evita o crescimento dos partidos de menor expressão.

Parece que, por momentos, os líderes partidários dos acima identificados vivem numa realidade paralela e não se encontram conscientes que o partido que em 2019 apenas elegeu 1 deputado a nível nacional, sem necessitar de mudar o sistema de contagem de votos, somente em 5 anos passou a deter representação em todos os 22 círculos eleitorais, terminando até por vencer 2 deles (Faro e Europa).

Já vem sendo bastante a forma como – em praticamente todas as matérias – o interior se vê prejudicado. Muito mal estaríamos se também fossemos castigados pela incompetência política de alguns lideres partidários que, ao invés de tentarem a aproximação com os territórios em que podem ganhar votos, continuam a lutar por não perder nas sobrecarregadas metrópoles, e a culpabilizar PS e PSD, sem qualquer fundamento, pela sua ineficácia partidária.