Fruto do cenário eleitoral que vivemos, a atividade política vem surgindo com maior frequência no quotidiano dos portugueses, contudo, esta prática vem sendo negligenciada pelos lideres partidários quando, face à oportunidade de apresentarem o respetivo plano para o país, optam pelo disseminar de constantes ataques que visam o passado político e pessoal de cada líder e partido, esquecendo totalmente que as eleições devem ser sempre sobre futuro e não a respeito do passado.

Enquanto nos mantemos entretidos pelo espetáculo, passam impunes e despercebidas de discussão questões basilares tangentes com a hodiernidade do país, com as subsequentes gerações e com o estado democrático.

No que respeita à dita democracia – modelo que se encontra intrinsecamente conexo com o conceito de igualdade – e relacionando-a com estes espetáculos que se apelidam de debates, nos quais apenas se pavoneiam as gravatas e exaltam os galhardetes, tudo se torna estranho quando se constata que em pleno exercício da democracia, existem partidos de primeira e partidos de segunda.

Ora vejamos, nos supra referidos debates existem diferentes tipos de horários – 18:00h; 20:30h; 21:00h e 22:00h – entendendo-se que o prime time se fixa em qualquer momento após as 20:30h, inclusive, altura que as famílias se encontram atentas aos noticiários, em detrimento da escala das 18:00h, período este em que a maioria dos portugueses ainda se encontra a trabalhar ou a caminho de casa.

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Vingando o princípio da igualdade entre os partidos concorrentes, seria expectável que existisse uma distribuição que se munisse de equivalência. No entanto, verifica-se que os partidos possuidores de maior expressão social nem por uma única vez se exibem antes das 20:30h, enquanto os de menor representação, como é exemplo do Livre e da IL, estão sujeitos ao horário de menor visibilidade por 4 e 3 vezes, respetivamente.

No que concerne com a atualidade nacional, vão passando incólumes temáticas como a crise na habitação, a recuperação do tempo de serviço dos professores ou a equiparação dos subsídios de risco de todas as forças de segurança aos da polícia judiciária, que, em nosso prejuízo, se vão substituindo por insolentes afrontas que vão trazendo à tona casos e acontecimentos pouco ou nada importantes e interferentes com a economia do país e a melhoria das condições de vida dos portugueses.

Naquilo que afeta o futuro do país, para além dos quase diários e já normalizados casos de corrupção, vivemos sobre a ameaça de um dos entraves de maior relevância para as gerações futuras: a desertificação do interior territorial.

Não sendo a primeira vez que abordo o assunto, procurarei não me repetir no que respeita à aplicação de medidas de fixação que passam pelo desenvolvimento da economia rural, pelo incremento da taxa de natalidade ou criação de especiais condições para acesso a habitação, e focar-me-ei na representação política dos territórios de menor aglomeração.

Analisado o mapa com o número de deputados a eleger para a Assembleia da Republica em 10 de março e a sua distribuição por círculos eleitorais, publicado em Diário da República no pretérito 16-01-2024, constata-se que os 9 distritos situados na parte térrea deste jardim à beira mar plantado – entre eles Beja, Bragança, Castelo Branco, Évora, Guarda, Portalegre, Santarém, Vila Real e Viseu – apenas contribuem para o hemiciclo parlamentar com 40 deputados num universo total que compreende 230 eleitos.

Para que melhor se entenda a díspar distribuição, os distritos de Setúbal e Braga – que nem são os dois maiores – elegem, em conjunto, 38 representantes. O Porto, singularmente, contará com 40, reservando-se o primeiro lugar para Lisboa com 48. Mais irrisório parece quando, somando Lisboa (48), Porto (40), Setúbal (19), Braga (19), Aveiro (16), Madeira (6) e Açores (5) se atinge o total de 153 deputados, representativos de aproximadamente dois terços da totalidade do quórum da Assembleia da República, o que menospreza a significância dos remanescentes 15 círculos eleitorais por contabilizar.

Previamente aos circos mediáticos que nos tentam impingir, urge pensar Portugal, pensar uma reforma no sector primário que tão característico é da sociedade rural, pensar o papel do agricultor quando relacionado com a abastecimento da polis e, sobretudo projetar, uma vez que a essência e o propósito da política é somente esse, o futuro.