Este país está invadido! De tal maneira que as nossas têm cada vez menos espaço para viver e sobreviver! Chegaram por toda a parte: em barcos, em aviões, em contentores de mercadorias, por fruto de ignorância ou malícia de quem as trouxe e agora ninguém as pára! E dado que ninguém toma conta delas, é tempo de restituir Portugal às portuguesas!

Sem querer confundir mais o leitor, falamos do nosso património vegetal! Plantas de todas as formas: árvores, arbustos e ervas que estão sob gravíssima ameaça de extinção ou sob um imenso stress devido à rápida e incessante proliferação em massa das muitas espécies plantas invasoras.

Entraram no país ao longo de décadas e já transformaram radicalmente as nossas paisagens, florestas e ambientes agrícolas e naturais. Numa grande parte dos casos, de maneira irreversível, destruindo por completo aquilo que era singularmente nosso, apagando para sempre o que eram os nossos ecossistemas e o nosso capital natural.

As espécies exóticas invasoras, por carecerem de predadores ou outras espécies competidoras, desenvolvem-se e espalham-se sem freios, tornando-se praticamente extremamente difícil de domar e gerir. Com isto, roubam o espaço das nossas espécies que estão por base dos nossos ecossistemas. Com o desaparecimento ou substituição das nossas espécies endémicas, as verdadeiras espécies lusitanas, em conjunto com a pressão da ação humana e diminuição de áreas verdes, os nossos espaços naturais são tão brutalmente afetados que muito rapidamente estamos a perder os nossos insectos, a perder os nossos pássaros, a perder os nossos peixes, a perder os nossos mamíferos. Sem espécies realmente únicas que temos nestas paragens do extremo da Europa, esta terra, este nosso país torna-se ainda mais desértico, mais pobre.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sem exageros, nem alarmes vazios, a dura realidade é que presenciamos um genocídio silencioso, uma tragédia que devia causar muito mais preocupação junto de atores locais e nacionais. De norte a sul, é cada vez mais difícil encontrar espaços onde encontremos florestas, prados, rios e ribeiros que mantenham um traço mínimo das suas características e espécies originais. O nosso país está muito diferente daquele que os nossos pais e avós conheceram e, por conseguinte, mais pobre.

Um olhar atento, vê o implacável avanço de inúmeras espécies invasoras pelo país fora. Numa viagem entre Lisboa e Porto, da auto estrada observamos regiões totalmente assoberbadas pela cana. No Ribatejo, cursos e corpos de água abatidos sob o jacinto de água. Rios e ribeiros a desaparecer debaixo do volume insuportável de espécies difíceis de fazer frente. Mais a Norte, acácias e eucaliptos fazem da verdadeira, original lusitana floresta um mito antigo, um conto passado por gerações e gerações e que as nossas gerações acabaram por matar.

Este crescimento desmesurado de espécies invasoras é o resultado de décadas e décadas de políticas que ignoram as diferentes realidades e problemas reais do nosso país. Problemas complexos inúmeras vezes identificados, eternamente empurrados para o lado ou para debaixo do tapete. Falta de sensibilização das populações e partilha de informação. Falta de uma estratégia conjunta entre todas as partes interessadas que tenham capacidade de resposta a estes problemas. Falta de uma distribuição demográfica equilibrada. Falta de sangue jovem além-costa.

Felizmente, existem algumas (poucas) iniciativas públicas para o combate às invasoras (a plataforma e app Invasoras.pt, por exemplo), mas ficam demasiadamente aquém da reforma radical necessária para restaurar um património que é nosso e que herdámos. Por aqui e ali, espalhados em grupelhos, há uns quantos loucos que põem às suas costas uma responsabilidade que devia ser de todos: restaurar o nosso património vegetal. No entanto, é absolutamente necessário que proprietários, sociedade civil, entidades públicas e órgãos de governação se unam numa estratégia comum. É um problema que tem de envolver todos os níveis, toda a estrutura hierárquica social e política. Faltam fundos, diz-se. Mas o desinvestimento, o descuido e inação levarão a mais perdas, a mais pragas, a mais incêndios, a mais desgraças e a mais mortes.

Já perdemos uma vasta maioria do nosso património vivo e continuamos a perder o pouco que nos resta. Este património deveria fazer do nosso canto da Europa um lugar especial e único no mundo. Ao perder as nossas espécies, as nossas florestas e ecossistemas naturais, uma parte significativa do que faz Portugal ser Portugal, perdemos todos.

Infelizmente, enquanto as árvores demorarem mais de quatro anos a crescer, continuaremos à espera de estratégias governamentais que se dediquem a fundo aos problemas das espécies invasoras que sofregamente consomem o nosso país, tirando Portugal das Portuguesas.