O primeiro governo de António Costa, em 2015, desiludiu desde logo pela sua orgânica familiar e paroquial. Foi-se desfazendo em inoperância e incompetência. O segundo governo, de uma dimensão nunca vista, foi fielmente desiludindo, acossado por escândalos e incompetências de toda a ordem na saúde, na defesa, na educação, na justiça, na administração do território, na segurança.

Oleado pela falta de escrutínio no Parlamento e nas televisões durante os últimos seis anos e empurrado pela agenda instável e imprevisível do Sr. Presidente da República, este novo governo surge ancorado numa maioria absoluta.

Aqui chegados, poderia a hora ser de esperança, após dois anos de uma gestão por vezes caótica da pandemia por parte da governação do País. E, mesmo considerando o ambiente de chumbo que se vive hoje no Mundo e particularmente na Europa, poderia ser hora de esperança para Portugal pois a União Europeia continua infinitamente generosa nos apoios financeiros e uma maioria absoluta no Parlamento deveria desde logo dinamizar uma governação reformadora.

No entanto, não temos dúvidas de que não serão feitas reformas. A própria constituição do governo já o anuncia: o anterior ministro da Defesa, que não explicou um escândalo da dimensão do ocorrido em Tancos, é premiado com o Ministério dos Negócios Estrangeiros; a ministra da Saúde, que geriu o período da pandemia de forma obsessivamente ideológica quando se pedia operacionalidade prática para bem dos cidadãos indefesos, mantém-se alegremente no posto; por conveniências da luta partidária interna, o ministro das Obras Públicas é mantido em funções, apesar de ser ideologicamente conivente com uma solução empresarial para a TAP que irá gerar milhões de euros de perdas aos cofres do Estado; o secretário de Estado da Educação, real autor das desastrosas políticas implementadas no sector nos últimos anos, é promovido a ministro; o ex-presidente da Câmara de Lisboa deixou um endividamento de dimensão épica e é designado ministro das Finanças, não sendo visivelmente detentor de curriculum para tal cargo; o autor de um dossier baptizado PRR, feito apressadamente, é premiado com o ministério da Economia, pasta que deveria ser considerada como crucial nesta legislatura. Continuaremos a testemunhar o afundamento sorridente da Segurança Social. E, dadas as recentes nomeações, nada acontecerá de substancial na área da justiça. Nem na área da agricultura. Muito menos na do mar.

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Os portugueses trabalhadores, sérios e empenhados que por aqui abundam circulam no meio de uma floresta de regras, leis e procedimentos, taxas, impostos e proibições. Pastoreados por discursos públicos primários, interesseiros e sem sentido de Estado e genericamente anestesiados por uma omnipresente televisão festivaleira e simplista, vão andando e, com a sua tradicional resignação, seguem ainda mais individualistas, apenas focados em sobreviver.

O mais deprimente de tudo isto? A fuga generalizada dos nossos jovens mais bem formados para outras paragens onde procuram melhores empregos com perspectivas de carreira, reconhecimento, melhores ordenados, menos impostos. Em suma: um futuro melhor. Virão cá de férias. Ou então, muitos anos depois, reentram nas empresas cá em Portugal por uma porta mais alta. Por cá ficamos nós, os mais velhos.

Entra em funções um novo governo que foi bafejado com uma maioria absoluta e receberá montantes astronómicos da Europa e antecipamos já que as políticas públicas durante os próximos quatro anos serão ditadas prioritariamente pelas agendas partidárias, em particular a do partido do governo e não pelos interesses dos cidadãos.

Não devia ser assim. Ou melhor: os cidadãos não deveriam permitir que assim seja.