Chegar atrasado é algo quase proverbial em Portugal, por isso até nem me sinto mal por escrever alguma coisa sobre o nosso dia nacional, o 10 de Junho, com mais de um dia de atraso.
Feito o pedido de desculpas, recordo que li algures que não há lei nenhuma que eternize as Nações, e que só continuaremos a ser e a existir como Portugueses se o quisermos. E se acharmos que estamos seguros, olhemos para a Ucrânia… Não será provável uma invasão militar espanhola, certamente, mas há muito que se assiste, com mais ou menos culpa “nossa”, a uma onda de sedução económica, social e cultural por parte de “nuestros hermanos” (que são irmãos, e não amigos, já que os amigos a gente escolhe, mas os irmãos não…), com a conivente apatia lusitana. Para quem possa andar mais distraído, que dizer por exemplo da “cooperação transfronteiriça” em matéria de saúde (em que contratamos com Espanha a realização de exames complementares que certamente poderiam ser realizados em Portugal)? Ou se compararmos a distância ao hospital português mais próximo de muitas localidades da “raia alentejana”, e o estado das rodovias nacionais da mesma zona, comparando com o lado de lá da fronteira?
Causa ou consequência disto e muito mais, tristemente todos conheceremos alguns portugueses a desejar (ou a não se importar) que a Península fosse um só país (já que ser uma só Nação seria impossível). Os que conheço e assim pensam são todos formados em Gestão ou Economia, e suspeito que haja uma relação causal entre ambas as características. Mas a este modo de pensar creio que não será alheia alguma iliteracia histórica, social e económica (que grassou ao longo das décadas como fruto da irresponsabilidade culposa de muitos, sobretudo Estado e agentes políticos). (Um justo parêntesis ao Observador, que muito tem contribuído para divulgar o conhecimento junto dos leitores e da sociedade em geral em tantos e tantos campos deixados vazios ou mal preenchidos nos curricula escolares).
Com a perda de bastante da importância que tinha no mundo até 1974, sou dos que pensa (como muito bem defende Bruno Cardoso Reis no seu ensaio Pode Portugal ter uma estratégia?) que o nosso país não está condenado à irrelevância. Mas… numa época de amnésia (quando não ignorância) quase colectiva sobre o nosso passado e presente, interrogo-me muitas vezes com aquelas palavras atribuídas ao Rei Esperançoso, D. Pedro V, que parafraseio livremente: o mal não é sermos pequenos; é não querermos ser grandes.
E a questão que de imediato se impõe é óbvia: e queremos ser “grandes”?
Quero acreditar que sim, não obstante os sinais em contrário.