Depois de um período com dados particularmente sorridentes, dir-se-ia que entrámos numa fase com valores que inspiram algum temor – até a mim, que tenho mantido uma posição predominantemente optimista.

Passemos a analisar os dados actualizados até dia 25 de junho, com base nos relatórios de situação diários emitidos pela Direcção-Geral de Saúde.

O número de casos confirmados (linha cinza: 40.415, dia 24: 40.104) voltou a aumentar 0,8% no dia 25, mas já vamos a uma análise mais apurada destes valores.

Passemos agora aos casos recuperados (linha azul: 26.382, dia 24: 26.083), que aumentaram substancialmente, como convém.

O número de casos activos (linha laranja: 12.484, dia 24: 12.478) manteve-se praticamente constante e não deixa de ser interessante notar quão estável está esta variável há mais de um mês. Isto mostra-nos que o aumento no número de casos confirmados tem tido eco no número de casos recuperados, motivo pelo qual a linha laranja permanece incrivelmente estável. Enquanto permanecer assim, estamos bem. Obviamente que o cenário mais desejável de todos é vê-la diminuir, o que significa mais casos recuperados do que novos casos confirmados. Lá chegaremos.

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Os internamentos totais (linha amarela: 436, dia 24: 429, dia 23: 441) têm tido pequenas oscilações, mas segue um perfil similar ao dos casos activos desde a segunda semana de Junho, permanecendo relativamente estável, em torno de 420, desde então. Mais uma vez, preferíamos ver a linha amarela descer – como fez desde o final de Abril até meados de Junho – mas, desde que não suba, podemos continuar a respirar de alívio.

Os internamentos em unidades de Cuidados Intensivos (linha verde: 67, dia 24: 73) seguem, mais uma vez, um perfil idêntico aos casos activos e internamentos totais, permanecendo relativamente estáveis desde a segunda semana de junho, rondando os 70 casos.

A média móvel (7 dias) do aumento diário de novos casos confirmados (linha vermelha: 347, dia 24: 343) revela nova ligeira subida, o que corrobora as observações anteriores.

Vamos lá então destilar tudo isto em algumas conclusões interessantes:

O gráfico anterior revela três fases distintas:

A primeira consiste na terrível subida dos casos confirmados e activos (linhas cinza/laranja/vermelha) e internamentos (linhas amarela/verde), prolongando-se desde o início desta crise até meados de Abril.

A segunda fase revela gloriosas descidas nos internamentos (linhas amarela/verde) e novos casos diários (linha vermelha), incluindo os casos activos (linha laranja), prolongando-se esta até final de Maio, início de Junho. Durante esta fase fomos apontados como os “meninos bonitos” na Europa e o mundo inteiro quis seguir o exemplo português.

Infelizmente, ao contrário de outros países europeus, como a Áustria, Dinamarca e Suíça, nos quais estas descidas se prologaram até atingirem números residuais, no caso português vimos uma estabilização dos casos activos (laranja) e internamentos (amarela/verde), devido ao aumento dos casos confirmados (cinza/vermelha).

Ou seja, se não fosse a profusão de novos casos (cinza/vermelha), as enormes recuperações que temos tido (azul) fariam os casos activos e os internamentos (laranja/amarelo/verde) descerem bastante.

Resta-nos agora especular acerca dos motivos que têm levado os casos observados a aumentarem de forma tão substancial.

Sem dúvida, que o desconfinamento terá um papel decisivo, mas as festarolas também não têm ajudado. Mas não esqueçamos que Portugal é dos países que mais testes efectua, o que tem este lado “perverso” (mas, obviamente, bom) de nos disponibilizar mais casos positivos. Nas brilhantes palavras do presidente Donald Trump, “se testássemos menos não teríamos tantos casos positivos”. Essa é, sem dúvida, uma possível estratégia para ter menos novos casos positivos nas estatísticas, mas agradeçamos às autoridades sanitárias portuguesas terem tido o discernimento de não seguir esta política genial.

Pelo contrário, a Direcção-Geral de Saúde tem feito um excelente trabalho no rastreamento desses casos positivos – embora tal nem sempre seja possível de forma exaustiva -, o que significa que um grupo de casos leva ao teste de todas as pessoas com quem tiveram contacto e, naturalmente, são encontrados vários casos positivos, cujos contactos são também testados e assim sucessivamente. Ou seja, casos positivos geram mais casos positivos e uma boa política de teste valida isso mesmo.

Quem segue os meus posts sabe que tenho adoptado uma postura genericamente positiva, mas gosto de pensar que igualmente realista. Assim, vou dar-vos a minha opinião sincera acerca destes números:

  1. Acredito que estamos a beneficiar do bom tempo que se faz sentir, que está genericamente associado a melhor estado de saúde da população, menos doenças, menos infecções e tudo mais “alegre”;
  2. Temo que um cenário idêntico durante o Outono/Inverno (altura em que o sistema imunitário está sujeito a mais agressões) nos trará sérios dissabores, com uma subida vertiginosa nos casos confirmados, não acompanhada por casos recuperados.

Em conclusão:

  • Temos três meses para #meterjuízonacabeça #deumavezportodas.
  • Se chegarmos a Setembro com comportamentos adequados, que nos permitam ter novos casos confirmados inferiores aos recuperados, então teremos linhas de internamentos e casos activos cada vez mais baixas e um Outono/Inverno tranquilos.
  • Se, pelo contrário, chegarmos a Setembro ainda a abusar das festas e disparates, então, meus queridos amigos, teremos muitos mais casos confirmados do que os recuperados, o que se traduzirá no pior cenário de todos, que é a subida nos internamentos.

Em suma: temos três meses para EDUCAR devidamente TODAS as pessoas à nossa volta. Meus/minhas amig@s, isto não vai lá só com bocas nas redes sociais. É no dia-a-dia. É dizendo às pessoas que se aproximam de mais na fila do supermercado, que devem manter distância. É dizendo aos amigos que vão para festas, para ganharem juízo e ficarem em casa. É apontando dedo – de forma cortês, mas assertiva – sempre que necessário. Se ganhámos o hábito de apontar o dedo a quem não apanha o cocó do seu cãozinho, agora teremos de nos disciplinar para vencermos a barreira comportamental que nos impede de apontar o dedo a quem não usa máscara e, ou está demasiado próximo.

#Todosjuntos e #comjuízo, damos cabo disto. Mas, enquanto tivermos uma franja da população que acha que “isto só acontece aos outros”, estamos TODOS em risco.

E mais não digo.

Um forte abraço, #emsegurança.

Permitam-me deixar ainda alguns gráficos e dados adicionais:

Este gráfico revela a quantidade de testes que têm sido efectuados diariamente (barras cinza), bem como a percentagem de positivos. O valor acumulado estabilizou nos 10% no final de Abril, subindo recentemente para os 11% (linha azul). Preocupa-me, contudo, que o mesmo número de testes venha a disponibilizar cada vez mais positivos, como se pode observar na linha laranja. O texto principal tece algumas considerações acerca dos motivos que poderão estar a levar tal ocorrer.

A progressão das médias móveis (7 dias) das taxas de aumento diárias de casos confirmados (linha vermelha) e óbitos (linha preta), revelam uma intensa descida ao longo do tempo, com estabilização do número de casos confirmados a partir do início de Maio, em torno de 0,8-0,9%. Os óbitos continuaram a descer, tendo estabilizado em torno de 0.1-0,2% – o que é excelente. Esperemos que bons comportamentos continuados levem as duas variáveis a descer ainda mais ao longo dos próximos tempos, preferencialmente até atingirem valores vestigiais.

No plano internacional, a comparação da média móvel (7 dias) dos óbitos diários de Portugal com outros países com valores na mesma ordem de grandeza (Dinamarca, Áustria, Suíça e Coreia do Sul), a linha portuguesa destaca-se pela negativa, uma vez que acompanhou o decréscimo das curvas dos outros países, mas evidenciou uma travagem nessa descida a partir do meio de Maio. Embora a descida tenha retomado em Junho, os últimos dias sugerem que ainda não estamos em valores vestigiais, próximos de ausência de óbitos, como os restantes.