A noite de domingo não foi assim tão surpreendente a não ser para aqueles que teimavam em ignorar a realidade política dos últimos meses.

A abstenção diminuiu o que é sempre um sinal positivo e digno de registo e valorização, independentemente das várias análises e interpretações que possam ser feitas. A extrema direita alcançou as percentagens já previstas ao longo das últimas semanas.

O Partido Socialista caiu, como seria de esperar. Nenhum líder, nenhum partido, seria capaz de um resultado melhor nestas condições. Foram dois anos desastrosos, ainda que suportados por uma maioria absoluta, que terminaram com a demissão do Primeiro Ministro no contexto que todos nós conhecemos. Era difícil esperar-se mais.

Com desastres como o do Partido Comunista, mas com a resistência do Bloco de Esquerda e a surpresa do LIVRE a Esquerda mostra-se capaz de aguentar a queda e pronta a enfrentar os próximos desafios.

A Aliança Democrática e a Direita vencem, mas sem convencer. Depois de 9 anos na oposição o Partido Social Democrata não foi capaz de capitalizar o descontentamento existente com a Esquerda e com o Partido Socialista. Não foi capaz de transmitir uma segurança no seu voto e uma visão reformista e de futuro aos portugueses. Por enquanto e para já o tempo é o da Direita. Luís Montenegro cumpre a promessa de que não fará qualquer tipo de acordo ou negociação com a extrema direita, assim como Pedro Nuno Santos garante que o Partido Socialista viabilizará um governo minoritário da Aliança Democrática.

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Resta-nos assim muito pouco. Será viabilizado um governo minoritário da Aliança Democrática, que terá que sobreviver, pelo menos, até à votação do próximo orçamento de Estado e que não terá condições para implementar o programa de governo com que se apresentou ao país.

Dizem os especialistas e os senadores de direita que este governo deve ser de alta competência política e técnica e com uma grande capacidade de negociação, que lhe permita alcançar acordos da esquerda à direita e garantir assim a viabilização do próximo orçamento de estado. Não creio nesta teoria nem muito menos tenho essa esperança. O PSD e o CDS sofrem da mesma carência de quadros de que sofreu o PS nos últimos anos e um governo a prazo não atrai grandes figuras nem grandes quadros para a sua composição. Teremos assim, em minha convicção, um governo sustentado no aparelho dos partidos que compõem a AD e que sofrerá dos mesmos males de que sofreram os últimos governos do PS. Não faltarão os casos e casinhos e as nomeações pouco sustentadas e duvidosas.

É tempo de nos prepararmos para um período de alguma(muita) instabilidade política e social e de muitos ziguezagues por parte dos diversos atores políticos.

O principal ensinamento que podemos tirar deste ato eleitoral é de que todos, enquanto sociedade, somos responsáveis por estes resultados e por esta indefinição. Protestar não deve ser votar na extrema direita. Protestar não deve ser julgar que a solução está nos extremismos, na xenofobia e no racismo. E definitivamente, protestar não pode ser votar nos partidos que prometem limpar a política e o país, quando a obscuridade e sujidade são a génese desses mesmos partidos. Prestes a completar 50 anos desde o 25 de abril já devíamos ter consciência de que não é a votar em partidos com comportamentos antidemocráticos que asseguramos a sustentabilidade da nossa democracia, a nossa segurança, o nosso bem-estar e o nosso futuro.